Quem sou eu

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cirurgia Bariátrica: Operaram o Órgão Errado!

            Dia destes fui almoçar em um self-service perto de casa, o terror de qualquer dieta. Oba! Feijão tropeiro! Beleza, hoje tem batata frita! Ah, esta lasanha está com uma cara tão boa, vou pegar só um pedacinho para provar. Risoto! Hoje é o meu dia de sorte! Bife de boi, um de porco e um pedacinho do de frango... Adeus dieta! Manter a linha em um restaurante deste é realmente muito difícil.

        Desaparecido atrás do “pequeno” prato, comecei a peleja. Assentado na minha frente encontrava-se uma daquelas figuras típicas de restaurante self-service. Um jovem muito obeso com o prato transbordando. Certamente ganharia indicação para cirurgia bariátrica sem a utilização de subterfúgios, muito frequentes atualmente. “Ajudar” o cliente a preencher os critérios para cirurgia parece absurdo, mas acontece. Discutimos bastante a indicação e a banalização da cirurgia de redução de estômago na nossa equipe. O aumento significativo deste procedimento vem evidenciando, cada vez mais, os seus riscos e uma realidade cruel. Deficiências vitamínicas e de ferro são comuns e fáceis de se contornar; o difícil é mudar a cabeça do obeso. Indicações existem, mas a preparação psicológica me parece insuficiente na maioria dos casos. Pacientes operados que voltaram a engordar estão se tornando muito comuns. A cabeça não estava preparada para largar a obesidade.

            No caso daquele jovem, a preparação psicológica parecia pronta. A sua lentidão para se alimentar me chamou a atenção, apesar do prato bem cheio. O problema só podia ser do seu metabolismo. Ele dava uma garfada, olhava para o infinito. Mastigava como uma tartaruga, colocava os talheres sobre o prato, aguardava alguns minutos e só depois enchia um novo garfo. Organizava o arroz e o feijão no prato de maneira metódica. Mais parecia um menino já saciado com vergonha de falar para a mãe que não queria mais comer. Chegara mais tarde que ele e já havia devorado meu prato enquanto o jovem mantinha seu ritual de “very very very slow food”.

            Um dos princípios básicos para conseguir perder peso é alimentar-se devagar. Neste quesito aquele jovem me parecia um mestre. Continuava sem entender aquela obesidade desproporcional...

        Como um jovem tão obeso comeria assim tão devagar? Estaria fazendo regime? Fiquei muito encucado com aquela situação. Eis que a resposta surgiu junto com a dona do restaurante... O jovem estava apenas esperando seu bife de fígado acebolado que estava sendo preparado e acabara de chegar a sua mesa após um longo período de espera. Dali em diante, em menos de 3 minutos, terminou todo o seu prato sem quase respirar direito. Estava explicado...

            Sei dos benefícios da cirurgia bariátrica bem indicada, mas muitas vezes opera-se o órgão errado. O problema não é no estômago e sim na cabeça. O estilo de vida, a influência dos familiares e da própria sociedade são alguns dos verdadeiros culpados. Pobre coitado do estômago! A preparação psicológica é fundamental e deve ser seguida criteriosamente no pré-operatório. Me atrevo a dizer que aquele obeso que passa por um acompanhamento psicológico e psiquiátrico sério tem mais possibilidades de emagrecer sozinho (“fechando a boca”) do que com a cirurgia. Meia dúzia de visitas ao psicólogo não conseguem preparar os pacientes adequadamente e nem resolver o verdadeiro problema. O caminho mais fácil nem sempre nos leva ao destino correto. Um corpo saudável e uma boa saúde dependem de esforço, disciplina e atitude. Cirurgia e remédio são sintomáticos. O verdadeiro problema precisa ser tratado junto para se alcançar um resultado satisfatório.

            Com raríssimas exceções, a obesidade é resultado de uma ingesta maior do que o consumo ao longo de anos. Dietas milagrosas não resolvem o problema. Uma educação alimentar desde a infância, com exemplos familiares, atividades físicas e “cuca” boa irão determinar os dígitos da balança quando você sobe nela. Mudar hábitos, principalmente alimentares, é mais difícil que tratar um câncer, na maioria das vezes.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Sapato Velho

         Certa vez, conversando à beira mar com um casal de amigos, vendedores de sapatos, escutei uma pérola que levarei sempre comigo. Estávamos divagando sobre médicos e medicina...
            - Pois é Breno, outro dia fui à um médico que gostei muito mas nunca mais volto lá...
            Sem entender nada perguntei o motivo. A resposta, uma lição.
            - Você precisava ver o sapato dele. Credo! Todo encardido e de branco já não tinha nada. Se cuida do sapato daquele jeito, imagina dos seus pacientes...

            Pois bem, esta pequena passagem real me estimulou a falar um pouco sobre a qualidade percebida pelo nosso cliente. Na prestação de qualquer serviço, a percepção de qualidade geralmente é distinta entre o cliente e o prestador. As técnicas mais modernas de gestão tentam, simplesmente, aproximar ao máximo estas percepções. Em medicina, nem sempre aquilo que o médico julga ser a essência maior de qualidade, ou seja, o sucesso do tratamento, é percebido pelo cliente como tal. A percepção de qualidade do cliente pode ser bem distinta e até considerada “boba” ou supérflua pela maioria dos médicos, mas é real e determinante na escolha do profissional e da instituição de saúde.

            Costumo apresentar a seguinte fórmula nas minhas apresentações:

Satisfação do Cliente = 
Resultado + (2 x Atendimento)

         Exemplificando melhor... Um cliente procura o médico por causa de uma tosse produtiva, febre e mal-estar geral. O médico atende rapidamente, o diagnóstico é relativamente simples. Sem oferecer a mínima atenção, prescreve corretamente um tratamento com antibiótico. Analisando a conduta, definiu-se o problema e instituiu-se a solução correta. Mesmo assim, o cliente sai insatisfeito do consultório e, além de duvidar do diagnóstico dado, ainda vai falar mal do médico. O que aconteceu de errado? O médico resolveu o problema do cliente, não?

            Na área de saúde, nem sempre o resultado final é diretamente relacionado a satisfação do cliente ou à sua percepção de qualidade. Um resultado ruim pode estar associado a satisfação final do cliente e vice versa. A qualidade percebida pelo cliente está muito ligada a fatores tangíveis, fáceis de serem notados, e não necessariamente relacionados diretamente à prestação do serviço em si. Uma roupa alinhada, uma barba bem feita, sapatos bonitos, consultório elegante, secretária educada e pontualidade, dentre outros, são alguns fatores relacionados a qualidade percebida pelo cliente. Não adianta questionar o que é fato. Obviamente que a qualidade técnica do atendimento em si é importante. Atenção, empatia e cumplicidade são intangíveis e indispensáveis.

            A resposta mais frequente é a seguinte: “Ganhando pouco e trabalhando muito, vou ficar me preocupando com barba, roupa ou piso do consultório?”. Pois é, se você pensou nesta resposta ao ler o parágrafo acima, reveja seus conceitos. O principal fator de sucesso na prestação de serviços é a satisfação do cliente e você, insiste em negligenciar. Já comentei sobre isso em uma postagem (Colocando o Dedo na Ferida) que vale a pena ser lida, relida e rediscutida.
           
            Insisto que precisamos enxergar o que o cliente necessita além da cura propriamente dita. A chamada “medicina alternativa” está crescendo tanto porque oferece a carência principal da medicina tradicional: atenção. Claro que existe má fé e picaretagem em todas as “medicinas”, mas julgar sem conhecer é um erro primário que não cometo. Exerço a medicina alopática tradicional e procuro, simplesmente, aprender também com a “concorrência”.

                 Ofereça aquilo que é importante para o seu cliente e não somente aquilo que você julga importante. Um sapato pode sim, refletir a personalidade do médico na opinião do cliente. Pense nisso e vá comprar um sapato novo!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Santo de Casa não Faz Milagre


     O provérbio acima é um paradigma na área de saúde, muito mais frequente do que imaginamos. Em uma rápida pesquisa, atribui-se este provérbio a Jesus, na bíblia (Marcos 6, 4-5), que diz: “Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa. E não podia fazer ali nenhum milagre...

     Apesar de bem antigo segue atual. Qual seria o principal motivo? Esta talvez seja a minha grande dificuldade em relação à medicina. A tendência natural diante de uma queixa de um familiar é a banalização. “Não é nada não... Fica tranquila que vai passar... Toma só um analgésico simples... Se não melhorar procuramos um médico... Agora não, depois eu afiro a sua pressão...” e assim vai. A atenção que sobra para os meus pacientes é, muitas vezes, escassa com aqueles que mais amo.

     Seria a vontade de descansar, de se evitar o trabalho em casa? Não deixa de ser uma justificativa plausível mas não se encaixa em mim. Meu celular fica disponível 24 horas por dia, para todos os meus pacientes, e atendo todas as chamadas sem o menor problema. Além disso, qual médico não estuda após o expediente? Ou estudo não é trabalho?

     Seria o envolvimento emocional intenso que nos faz evitar alguns problemas de saúde dos nossos familiares? Pode ser, entretanto, o envolvimento com alguns pacientes também é muito frequente, apesar de totalmente diferente.

     Podem até dizer que fiz milagre na ocasião já contada aqui com o papai (Papai Ganhou na Loteria) mas estou falando é do dia-a-dia. Daqueles dias comuns, inundados de rotina e que são os mais frequentes.

     A história muda quando o nosso familiar próximo precisa de atenção médica real (em casos de urgência, por exemplo). Somos quem mais cobramos atenção, disponibilidade e eficiência do sistema. Assumimos a linha de frente e muitas vezes até atrapalhamos o colega que assumiu o caso. A atenção escassa do dia-a-dia brota abundante de uma hora para a outra. Peso na consciência????

     Precisamos lembrar que as queixas relacionadas à saúde, vindas de dentro de casa, também são pedidos de atenção. A falta de um beijo, de um abraço ou de uma conversa sem pressa são as principais carências. Reconheço minha limitação.  Assumir os problemas de saúde dos nossos familiares não é uma boa idéia e ainda é muito perigoso. Encontrar um médico de confiança que assuma esta responsabilidade é o melhor caminho.

     Não pretendo e nem vou assumir a saúde dos meus familiares mas vou oferecer, no mínimo, a mesma atenção que dispenso aos meus pacientes. Dizem que para se resolver um problema é preciso reconhecê-lo antes, sendo assim, o primeiro passo foi dado. Agora, é fazer e parar de divagar...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Velho Plantonista



Ensina sem força
Paciência extrema
Ensina deitado sobre as evidências
Literalmente dorme com elas

Pratica com experiência
Estuda feito residente
Ri das suas limitações
Esbanja segurança

Um fominha eterno
Procedimentos perfeitos relâmpagos
Cadê a “véia”?
Seu paciente, sua prioridade

Sorte de quem trabalha com ele
Ensina até no ronco
Porta aberta sempre
Resolve o problema, não rodeia

Infelizmente não é eterno
O tempo passa, o exemplo fica
Certeza? Uma só
Seu ideal continua aqui



Minha homenagem a um grande amigo, colega e mestre,
Dr. Eduardo Fonseca Sad, o Tonsa.
Após 12 anos de parceria no CTI Geral do Hospital Felício Rocho com muita gargalhada e aprendizado constante, o velho Tonsa sai dos plantões noturnos de segunda.
O plantão ficou pequeno para ele... 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Paciente Chato

    A sua mãe está internada no primeiro dia após a realização de uma colecistectomia eletiva (retirada da vesícula programada) e você é o acompanhante. No meio da noite sua mãe começa a queixar-se de dor na barriga. Você chama a enfermagem pela campainha. Após longos 13 minutos, a enfermeira vem avaliar sua mãe e fala que vai chamar o médico. Por telefone, sem avaliar sua mãe, o médico solicita a administração de uma dipirona (analgésico). Após 46 minutos da medicação, com uma piora significativa da dor, o médico ainda não veio avaliar sua mãe.  Você...

a)    Aperta a campainha de novo.
b)   Tenta acalmar sua mãe que está gemendo de dor com compressas mornas na barriga.
c)    Educadamente vai ao posto de enfermagem solicitar uma “re”avaliação.
d)   Chega no posto de enfermagem exigindo a presença do médico.

           Após 1 hora e 27 minutos do início dos sintomas, o médico chega para avaliar a sua mãe. Você...

a)    Solta os cachorros para cima dele. “Pago caro e exijo qualidade!”
b)   Pede desculpas pela chateação. Sua mãe realmente é muito manhosa.
c)    Sai do quarto e aguarda a avaliação do médico.
d)   Já achou na internet uma causa para aquela dor.

        Pois bem, isto ocorre frequentemente em ambientes hospitalares pelo mundo afora. Não vou entrar nos méritos de condutas durante esta postagem mas vou discorrer sobre o “Paciente/Familiar Chato”.

          Todos nós já nos deparamos com esta frase: “Nossa, aquele paciente é muito chato!”, muito escutada no dia-a-dia na área de saúde.  O rótulo de “Paciente/Familiar Chato” é muito perigoso e, na maioria das vezes, injusto e incorreto.

         Coloque-se na situação acima. Você se consideraria chato se exigisse uma avaliação médica da sua mãe com mais ímpeto?

         Porque percebemos tanta coisa errada quando estamos internados ou acompanhando alguém que está? Somos chatos ou o sistema é realmente falho e ruim? Já notaram que as coisas erradas acontecem sempre com os pacientes/familiares “chatos”? Por que será?

         A justificativa mais plausível é a seguinte: os pacientes/familiares “chatos” estão, simplesmente, alertando que existe alguma coisa errada acontecendo. Sendo assim, redobre a atenção nestes casos. Antes de rotular um paciente/familiar de “chato”, reveja toda a situação em busca de possíveis falhas. A falta de comunicação é o calcanhar de Aquiles de toda instituição de saúde e a grande culpada pela “chatice”.
           
           Os profissionais de saúde passam a evitar o contato com o paciente/familiar “chato”, aceleram as avaliações, tendem a ser ”secos” e com pouca, ou nenhuma, sensibilidade ao explicar tratamentos e diagnósticos. Estas condutas tendem a agravar a insegurança e a insatisfação que não podem, de maneira alguma, serem confundidas com chatice.

             O que julgo fundamental é o treinamento para se distinguir a chatice real da preocupação natural de um paciente/familiar que encontra-se inseguro. Isto demanda tempo e experiência. O que percebo é o limiar muito baixo dos profissionais de saúde no que se refere à paciência associados à uma completa falta de empatia. Característiscas que certamente diferenciam qualquer profissional em qualquer área.

            A paciência é nutrida por três fatores:

1)           Condições de Trabalho: fornecidas, em parte, pela organização e  desenvolvida pelo próprio profissional através das relações interpessoais no trabalho.
2)          Remuneração Justa: Indispensável! A paciência é diretamente proporcional aos ganhos financeiros. Como já dizia meu pai: “Não existe paciente chato, você que está ganhando pouco!”
3)               Descanso Adequado: sem sombra de dúvida, o melhor nutriente da paciência. Férias regulares, redução da carga de trabalho e o “desligar” (já citado neste blog) são vitais para a manutenção da paciência.

            A empatia é o reconhecimento das emoções das pessoas, colocando-se no seu lugar e avaliando a situação da posição do outro. Empatia é uma característica que pode, e deve, ser treinada e aprimorada. Atrevo-me a dizer que em 95% das vezes (acho que ainda não existem estatísticas sobre o assunto), a “chatice” pode ser revertida utilizando-se a empatia.

            O melhor antídoto contra a “chatice” na saúde é a atenção. Uma boa conversa, sem pressa e com paciência gera a empatia necessária para a continuidade e o sucesso do tratamento. O paciente/familiar sentindo-se seguro, não fica chato. Obviamente esta regra não se aplica à todas as situações mas treinando a empatia e cultivando a paciência, certamente o número de “chatos” ao seu redor se reduzirá bastante.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os Dez Mandamentos

Após uma “desligada” de 14 dias retorno hoje com uma nova postagem. Pela primeira vez não colocarei um texto de minha autoria. Este artigo, “Os Dez Mandamentos da Prática Médica" foi escrito há 42 anos e nunca ficou ultrapassado. Há 12 anos afixei na porta do meu quarto e sempre procurei ler e seguir ao pé da letra, literalmente. Acho que é uma leitura muito válida, então, vamos lá...


1-  Nada substitui o que se assimila no contato direto com o paciente: uma boa anamnese, um exame físico minuncioso e a perspicácia clínica que resulta da experiência. Disciplina clínica não pode ser aprendida apenas no laboratório ou através de leituras ou palestras.


2-  A boa prática médica é trabalhosa e exige dedicação. Não é possível tratar apressadamente de pessoas doentes obedecendo a horários rígidos. Exponha claramente a realidade ao paciente ou à família, durante o tempo que for necessário.


3-  Seja otimista: muitas doenças são autolimitadas e aliviadas sem muita interferência do médico. O resfriado comum é um bom exemplo, frequentemente tratado de forma exagerada.


4-  SEJA PACIENTE! Um período de observação é, em certas ocasiões, o único caminho para um diagnóstico correto. Não procure impressionar seu doente, ou a si mesmo, com uma quantidade desnecessária de exames complementares.


5-  Não seja por demais erudito. Lembre-se de que as doenças mais comuns ocorrem com maior frequencia: pense nelas primeiramente.


6- Não execute em seu paciente nenhum exame que você não faria em si mesmo ou em seus familiares, em idênticas circunstâncias. Não faça excesso de testes que eventualmente possam expô-lo ao risco de complicações iatrogênicas.


7-    Use novas drogas com cautela: é preferível manejar poucos medicamentos básicos com perícia e segurança do que utilizar os últimos lançamentos do mercado, que ainda não possuem sólida base experimental. Muitas doenças iatrogênicas resultam do uso indiscriminado ou excessivo de drogas, como por exemplo, antibióticos, tranquilizantes, esteróides e antinflamatórios. Por outro lado, é importante considerar o aspecto psicológico dos casos e usar critérios de bom senso. Desse modo, faz também parte da arte médica saber quando tirar proveito do uso de placebo, eficaz em numerosos casos.


8-  Conheça a si mesmo: suas forças e fraquezas. Extraia frutos da insatisfação com seu trabalho. Cultive a curiosidade acerca das doenças, mas trate tão bem o enfermo como a enfermidade. Quando tiver dúvida, procure o auxílio dos mais experientes. Cultive o senso de humor e o verdadeiro sentido de humildade. Não permita que a admiração de seus pacientes influencie seu raciocínio e conduta.


9-  Cultive a discrição quanto a nomes e doenças perante familiares e amigos dos pacientes.


10- Retire sempre uma lição a partir dos erros; errar ocasionalmente é humano, mas cada erro deverá transformar-se em aprendizado e obviamente jamais ser repetido.


            Esta postagem é uma homenagem a Sra. Anna de Oliveira Mello, minha paciente, que nos deixou no dia 18 e que, infelizmente, não pude estar ao seu lado na despedida. O carinho que tínhamos um pelo outro vai ficar para sempre na minha memória. Meus mais sinceros sentimentos à todos os familiares, em especial, Leníria e Glória.


Extraído do artigo: Ten Commandments of Clinical Medicine – Arch. Otolary, 1969; 90(1):2-3

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Desligar é Preciso

Desligar das atividades profissionais é uma das ferramentas mais potentes para aumentar o rendimento no trabalho. O velho ditado já dizia que quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro. Na verdade, o indivíduo que consegue se desligar passa a perceber novas oportunidades. A analogia é a de um meio campo de um time de futebol jogando de cabeça baixa. Jogando desta forma raramente enxerga-se a melhor opção. O profissional que vive apenas em função do trabalho torna-se um robô, apenas executa o serviço, não produz valor.

Não raro conhecemos inovações desenvolvidas a partir de observações de outras áreas. A criação dos parques tecnológicos baseia-se nesse princípio. Unir áreas totalmente diferentes com idéias e processos que podem se encaixar. O caminho mais curto e adequado para diversas situações cotidianas, geralmente, já existe em outros setores, basta adaptá-los.

Tire férias. Indiscutivelmente o melhor combustível para a inovação. Não apenas na criação de novas idéias como no poder de execução das mesmas. As férias devem ser utilizadas para se conhecer novas culturas e expandir conhecimentos. Jamais "venda" suas férias. Tenha certeza que o "ócio" vale muito mais financeiramente.

Cultive um hobby. Aprenda a tocar um instrumento, a cozinhar, a falar outra língua, a degustar um bom vinho ou a fazer sua própria cerveja. Utilize características deste aprendizado no seu dia-a-dia profissional. Paciência, disciplina e sensibilidade na execução do hobby podem ser de grande valia no seu ambiente profissional.

Amplie seu círculo de amizades. Amigos do emprego não contam. As novas relações interpessoais que acontecem fora do ambiente de trabalho sempre ajudam bastante. Todos sabemos o poder de um contato bem feito. Portas novas se abrem, parcerias se consolidam e o crescimento profissional vem junto. Retomar velhas amizades e conhecer melhor aqueles que já estão perto de você também têm um resultado surpreendente.

Viaje sempre que possível. Sem dúvida, um dos melhores investimentos. Rende muito mais que a bolsa de valores ou a previdência privada. Não desvalorizando, de maneira alguma, o planejamento da aposentadoria, muito pelo contrário. Viajar areja a alma, melhora a saúde e cria casos eternos.

Aprenda a dizer não. Recusar propostas e se desligar de alguns serviços pode ser o início de um crescimento mais ordenado. Descartar falsas "boas" oportunidades podem te deixar mais disponível para as verdadeiras.

Apesar da super produção científica mundial, não são duas semanas, ou três, que irão desatualizá-lo. Caso você se desligue por um período maior, fique tranquilo, pois as boas descobertas já virão testadas.

O desligar possibilita a vivência de momentos únicos, efêmeros e de valor incalculável. Brincar com seu filho, vê-lo crescer e participar ativamente das suas descobertas é muito mais importante que alguns milhares de reais a mais na velhice.

Caso você ainda não tenha enxergado ou praticado o "desligar", experimente. Cultive isto na sua vida e dentro da sua empresa. Melhora-se a satisfação e a produção. Trabalhar menos pode ser a chave para se ganhar mais.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ode à Residência Médica


Espécie rara, bicho estranho
Aprende e reclama junto
Promove atualização permanente
Lubrificantes da instituição

Excelência exige residência
Uma responsabilidade institucional
Permuta conhecimento por trabalho
Gera perenidade nas equipes

Aprende muito
O que fazer
Como não se fazer
Aprende ensinando

Sem residência tudo fica mais difícil
Procurar lá fora o que pode ser criado aqui dentro
Molde de profissionais à semelhança da instituição
Equipe forte é a que cria seus membros

Passa um aperto, faz prescrição
Chora escondido, dá um plantão
Problemas, um montão
Imprescindível para a instituição

Não existe residência sem plantão
Sem estresse ou sem sacrifício
Saída da zona de conforto
Entrada no mundo real

Conhece a realidade
Impostos, dia-a-dia, muitas limitações
Torce para acabar no meio
Agradece no final

Custo benefício indiscutível
Não enxergam os míopes da gestão
Quem dera se tivesse para todos
Ah, se todos enxergassem esse filão

Ansiedade para adquirir em poucos anos
O conhecimento que não se finda em uma vida
Aproveitar todos os bons seria o ideal
Infelizmente, doamos capacidade excepcional

Perpetuar idéias
Dar exemplo
Oferecer oportunidades
Fazer crescer crescendo


           Esta foi uma forma que encontrei de defender a residência e a especialização médica nas grandes instituições. Homenagem à todos os meus residentes e especializandos. Tenham a certeza que aprendi mais que ensinei.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Traição Disfarçada na Saúde

     O presidente do Google permitiria que um funcionário seu trabalhasse no Facebook? O dono da Coca-Cola, deixaria seu gerente trabalhar meio horário na Pepsi? O gerente da FIAT iria tolerar seu funcionário trabalhando na Ford? A resposta parece óbvia mas no setor de saúde isso é absolutamente normal. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e até mesmo gestores trabalhando em vários hospitais concorrentes. 
Leviano aquele que afirma que não existe concorrência entre hospitais. É óbvio que existe e está se acirrando a cada dia. Bom para os hospitais, melhor ainda para os pacientes. A busca contínua das melhores práticas tornou-se peça fundamental no cenário de saúde atual. A segurança do paciente já é uma ferramenta nobre de gestão, marketing e lucro dos hospitais. Não muito longe, os pacientes já escolhem os hospitais que irão ser atendidos. Aquelas instituições que não se prepararem, impreterivelmente, serão “engolidas”.
Citarei alguns pontos que julgo importantes nesta discussão:
1- Médicos - A formação do médico é muito longa, dispendiosa e sacrificante. Enquanto um engenheiro entra no mercado de trabalho em 4 anos, o médico que se propõe a se especializar em cardiologia, por exemplo, entra após 10 anos. A “ansiedade financeira” é característica comum da maioria absoluta dos jovens médicos. A necessidade de começar a ganhar dinheiro rápido leva o jovem profissional a se submeter a condições de trabalho ruins,  a uma carga horária desumana e ao “nomadismo médico”. Vejo inúmeros colegas achando bonito trabalhar em quatro, cinco, seis lugares diferentes. A escolha de locais baseados apenas nos ganhos financeiros é uma realidade. O médico, literalmente, é engolido pelo sistema. Boa parte deste problema é gerado pelo próprio hospital que não estimula a fidelização.
2- Enfermagem - Os profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos) esbarram em uma legislação “para inglês ver”. A carga horária é limitada em um serviço mas o número de serviços não é limitado pela legislação. Profissionais trabalham em diversos locais para melhorar a renda e não se dedicam de forma plena à uma instituição. Outro fator preocupante é a falta de estabilidade no emprego. Gostaria de lembrar aqui que estabilidade no emprego, na maioria das vezes, é conseguida pela qualidade do serviço prestado e dedicação. O bom profissional, de verdade, não precisa ter medo pois sempre terá o seu lugar. 
3- Gestores - Inúmeros profissionais prestam consultoria para várias instituições concorrentes. O acesso a informações privilegiadas, inovações, deficiências e projetos coloca estes profissionais em uma posição bastante ambígua. Excelentes salários e cobranças de resultados praticamente inexistentes ou facilmente manipuladas viram uma rotina com o passar dos anos.
4- Hospital - A desvalorização do corpo clínico e da enfermagem criam instituições cheias de bons profissionais sem uma equipe realmente efetiva. Aceitar os “nômades” e cobrar resultados é ininteligível.
Os grandes hospitais já começaram a vislumbrar o óbvio. A formação de uma equipe de trabalho exclusiva pode ser um caminho. A Medicina Hospitalar cresce a cada dia e se mostra uma alternativa viável e eficiente. O médico precisa enxergar que agregar-se a uma grande instituição é muito importante. A participação ativa na gestão favorece o crescimento do hospital e do próprio profissional. A enfermagem precisa rever suas legislações e defender a exclusividade bem remunerada, ao invés, de sonhar com uma estabilidade ilusória. As grandes instituições precisam de independência decisória para se tornarem competitivas. Valorizar os profissionais “da casa” é o caminho mais fácil e promissor. Cativar os colaboradores com boas condições de trabalho, remuneração justa e reconhecimento promovem a cumplicidade, a exclusividade e a obtenção de resultados realmente impactantes para a instituição. As instituições que acabarem com esta “traição disfarçada” sairão na frente.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Depilação do Tatá

       Baseada em um relato real de um "primo", conto esta história que evidencia o amadorismo na prestação de serviços em saúde que, infelizmente, ainda é muito frequente.
Os trinta anos estavam chegando e Tatá achou que seria importante fazer uma avaliação geral da sua saúde. Jamais tinha sentido nada mas encontrava-se visivelmente acima do peso, fumando e trabalhando em excesso. A vida profissional, cheia de viagens, impossibilitava, sob o seu ponto de vista, uma dieta mais saudável e a prática de alguma atividade física. Havia engordado 20 quilos nos últimos 10 anos e vinha pitando um maço de cigarro por dia.
Primeiro problema:  encontrar um bom médico para se consultar. Um amigo indicou um clínico geral de confiança da família. Ao ligar na clínica, constatou que o referido médico só atendia clientes particulares. Tatá ficou indignado, afinal de contas, pagava seu plano há pelo menos 15 anos e nunca tinha usado para nada. Resolveu encontrar um médico que atendia pelo seu plano.
Segundo problema: encontrar um médico do convênio para se consultar. Pegou o livrinho do plano de saúde com todos os clínicos gerais disponíveis. A maioria dos médicos não era encontrado no número telefônico fornecido pelo convênio. Ao encontrar um médico, ou era muito longe da sua casa ou só tinha consulta para daqui a 2 meses. Após muito custo, conseguiu um médico para lhe atender em "apenas" duas semanas. Agora era esperar a consulta e pronto. 
Terceiro problema: a demora no atendimento. Tatá chegou ao consultório do médico com 15 minutos de antecedência e encontrou a sala de espera lotada. Ficou em pé por 20 minutos até conseguir um lugar. Leu todas as revistas disponíveis, desde Caras até um gibi da Turma da Mônica. Após 45 minutos de atraso foi chamado pelo médico.
Quarto problema: a consulta. Tatá não tinha muito o que falar já que sua saúde era boa mas, uma consulta de sete minutos e meio realmente o assustou um pouco. Saiu com vários pedidos de exame de sangue e um teste ergométrico. Tatá até conseguiu entender os exames de sangue (hemograma, colesterol, glicose...). Agora, teste ergométrico, ele não tinha a menor idéia do que se tratava. O médico não explicou nada sobre o porque e como eram realizados tais exames.
Quinto problema: a marcação do exame. O menor dos problemas. Agendou o tal teste para ser realizado em uma semana. A clínica era conhecida na cidade. Solicitaram que Tatá fosse de short e tênis sem oferecer maiores detalhes.
Sexto problema: o teste ergométrico. Tatá chegou na clínica com dez minutos de antecedência sendo recebido pela secretária. Após o preenchimento de alguns papéis foi orientado a aguardar. Felizmente a espera não foi longa e uma enfermeira o chamou logo em seguida. Pediu para tirar a camisa e se deitar em uma mesa sem explicar nada. Com uma naturalidade impressionante, pegou uma lâmina de barbear e ao iniciar a depilação de alguns pontos do peito de Tatá foi interrompida pelo atônito paciente. Tatá se recusava terminantemente a fazer a tal depilação. Após alguns minutos de estresse, o médico veio e explicou que a depilação era apenas para fixar os eletrodos do eletrocardiograma e minimizar as interferências durante o exame. A depilação era fundamental. Só assim Tatá permitiu, com muito desgosto, e fez o exame que não mostrou alterações.
Sétimo problema: o retorno ao médico. Desta vez foi atendido rapidamente, nos dois sentidos. Entrou no consultório e entregou os exames para o médico. Após uma leitura rápida dos resultados, o Doutor pegou o receituário e prescreveu um medicamento. A letra era completamente ilegível. "O seu colesterol está alto. Comece a tomar este remédio todos os dias à noite, faça alguma atividade física e daqui a três meses você repete o exame. Te vejo em três meses." A consulta desta vez não havia durado nem cinco minutos. Tatá deixou o consultório perplexo, jogou a receita no lixo e jurou que nunca mais voltaria naquele médico.
O amadorismo na prestação de serviços em saúde continua comum. Todos conhecemos casos semelhantes ao de Tatá. A falta de comunicação é, sem dúvida nenhuma, o maior dos problemas. Os profissionais de saúde frequentemente acham que o cliente já sabe tudo. Um pouco de atenção e comunicação minimizariam bastante as angústias, medos e inseguranças dos nossos clientes. Felizmente existem profissionais gabaritados no mercado. Procure-os. Uma consulta particular de qualidade, em um bom médico, vale o investimento. Isso, eu garanto. 

Obrigado pelas manifestações de carinho nesta data querida. Foi com muito orgulho que recebi duas citações em blogs bem bacanas: 
1- www.editorasaojeronimo.com.br/manodown - do meu primo irmão, Léo Gontijo, que ilustra o seu amor pelo Dudu, seu irmão e nosso ídolo.
2- www.asdicasdadrica.blogspot.com - da colega Adriana, de faculdade e de blog, que elogiou o meu blog com palavras de carinho.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Equipe de uma pessoa só

        Dr.Juca veio de família humilde e sempre foi um batalhador. Muito estudioso, formou-se em medicina e iniciou uma bela trajetória. Na região, Dr.Juca era considerado o melhor. Atencioso e muito dedicado, criou uma clientela expressiva. Atendia exclusivamente em consultório e sempre trabalhou sozinho. Os dois filhos não fizeram medicina muito pela ausência do pai. Dr.Juca ficou famoso por suas curas ditas milagrosas. Ao final de 54 anos de dedicação exclusiva aos seus clientes, por problemas de saúde, abandonou a medicina e aposentou-se com relativo sossego financeiro.
      A história do Dr.Juca demonstra um "desperdício" de sabedoria muito comum no nosso meio. Experiência e vivência na medicina deveriam ser sempre passadas para os mais jovens. Minimizar os erros e encurtar o caminho para as novas gerações é um ato evolutivo. Conto esta história para exemplificar, de maneira prática, uma das principais vantagens do trabalho em equipe na prestação de serviços em saúde. Caso você não trabalhe em equipe, reavalie seus conceitos.
     A formação de uma família tem como principal objetivo a manutenção da espécie, das idéias, crenças e costumes. Família é a certeza da continuidade de princípios e atitudes, além dos genes. Em analogia, o segredo da perenidade e do crescimento na prestação de serviços é a formação de uma boa equipe.
      O trabalho em equipe é fundamental para o sucesso individual pleno. O sucesso profissional pode ser alcançado individualmente mas geralmente às custas do sacrifício pessoal e familiar. Na área médica, historicamente, a prestação de serviços sempre foi muito individual e centrada em um único profissional. O médico sacerdotal e 100% disponível para os seus clientes cede espaço para o médico que trabalha em uma equipe que está 100% disponível para os seus clientes. Os clientes têm o médico de referência mas conhecem os outros membros da equipe que oferecem a mesma qualidade no atendimento em caso de férias, congressos e imprevistos (de saúde, por exemplo). Trabalhar em equipe é um requisito indispensável para a qualidade de vida.
       A formação de uma boa equipe é o ponto principal e mais complexo. O ideal é, literalmente, você criar a sua equipe. A residência/especialização médica torna-se peça fundamental neste processo. Durante a residência, além de contribuir para a formação do jovem médico, você tem nas mãos uma fonte perfeita de excelentes profissionais. "Moldar" o jovem profissional com as características e os valores da equipe facilitam bastante a escolha de um novo membro e o crescimento da mesma. Após a entrada do novo membro da equipe, a assistência dos mais velhos continua primordial até a estabilização profissional e emocional do mais jovem. Esta transição precisa ser gradual e valorizada por toda a equipe. O jovem não ocupa o lugar do velho, e sim, novos espaços.
        O medo de dividir impede o crescimento real e perene do indivíduo. O trabalho em equipe permite que suas e atitudes permaneçam vivos e influenciando as pessoas mesmo após o abandono da profissão. Agregando bons profissionais a sua equipe, agrega-se qualidade, ocupa-se espaço, divide-se responsabilidades, ganha-se tempo para sua família e seu hobby, além de multiplicar os lucros (pode ter certeza). O seu colega excepcional não deve ser visto como concorrente, e sim, como sócio.
       A equipe precisa trabalhar em sincronia e nivelada nas obrigações e financeiramente. A exploração de colegas tornou-se prática comum entre médicos (e em outras profissões também), apesar de proibida pelo código de ética médica. Tenha certeza que a divisão justa mantém a equipe "azeitada" e motivada, o mais novo pode até receber menos no início mas com perspectiva de equidade financeira no decorrer dos anos. Caso isso não ocorra, a equipe não trabalhará com todos os seus membros satisfeitos e isto é o primeiro passo para a ruptura. A sensação de estar sendo explorado é muito pior que a remuneração propriamente dita.
Equipe em saúde é...
  • Ajudar e ser ajudado. 
  • Aparar arestas de maneira profissional. 
  • Divisão igual de tarefas e de dinheiro. 
  • Crescer junto. 
  • Unir características diferentes para potencializar a equipe. 
  • Hierarquia saudável. 
  • Defender a residência/especialização para garantir a perenidade e o crescimento. 
  • Trabalhar agregado a uma instituição.


Veja a figura abaixo, enviada pelo colega Pedro Nogueira Duarte. Sensacional!