Há seis anos fui convidado para ministrar uma aula no IEF
(Instituto Estadual de Florestas) sobre saúde. Montei uma aula tentando colocar
os dois temas lado a lado: saúde e meio ambiente. Gostei bastante do resultado
e achei bacana compartilhar minhas divagações...
Saúde, segundo a OMS, é “um
estado de completo bem estar físico, mental e social, e não meramente a ausência
de doença ou enfermidade”. Sendo assim, “a saúde do homem depende diretamente
da boa saúde do meio ambiente em que vive”.
Iniciei minha aula fazendo algumas comparações e questionamentos
junto a platéia, sem médicos ou profissionais da área de saúde.
O que é a imagem abaixo?
Todos responderam que era uma árvore seca; entretanto, olhando-a cuidadosamente e com um certo conhecimento, percebemos
que são as artérias de um rim. Abaixo, coloco uma árvore seca real. A
semelhança impressiona.
Coloquei essa outra figura e perguntei do que
se tratava...
A resposta "foto de satélite com um rio e seus afluentes" ganhou
fácil. Na verdade, trata-se dos vasos sanguíneos da retina de uma pessoa.
Abaixo, uma foto de um rio e seus afluentes, tirada de um satélite.
As últimas fotos que coloquei, para escancarar as
semelhanças, foram as duas seguintes... Vejam que interessante...
A primeira é a foto da junção do Rio Negro com o Rio Solimões, vista
de um satélite, e a segunda é uma arteriografia da aorta com a bifurcação das
artérias ilíacas. Alguém ainda duvida que somos parte do meio ambiente?
Até o final do século XIX, o Sistema Econômico era pequeno e bem
menor que o Sistema Ecológico. A partir do século XX, surge a economia do consumo desenfreado e o Sistema Econômico toma proporções inimagináveis, ocupando uma área enorme dentro do Sistema Ecológico. O lucro, acima de tudo e
de todos, passa a direcionar as ações, promovendo uma desigualdade nunca antes
vista. Vejam alguns exemplos...
- 20% da população do planeta consome 80% de tudo que é produzido;
- Os países do 1o mundo consomem 71% da energia produzida no planeta;
- 1/6 do mundo não tem acesso a água potável;
- 1/3 do mundo não possui saneamento básico.
Certa vez, Wood Allen disse: “Solucionar problemas econômicos é
fácil, basta ter dinheiro”. Equivocou-se. Segue um argumento imbatível...
O que você poderia fazer com 10 bilhões de dólares por ano?
Alternativa 1: Em 10 anos, sanear todo o mundo (isso mesmo, em 10
anos toda a população da Terra teria saneamento básico com este valor!)
Alternativa 2: Gastar o dobro com comida para cães e gatos (nos EUA,
gasta-se, atualmente, cerca de 20 bilhões de dólares por ano com alimentos para
bichinhos de estimação).
O dinheiro existe, isso é fato. O que falta é foco e vontade de resolver os problemas. Investe-se errado
em busca de uma política de saúde eficiente. Veja a tabela abaixo e
lembre-se que a política dos EUA é copiada mundo a fora...
Posteriormente, fiz uma analogia entre as catástrofes na natureza
(tsunamis, terremotos, furacões e tempestades) com as doenças no homem
(hipertensão arterial, diabetes, câncer).
A Terra, assim como o Corpo Humano, possui um poder de assimilação
impressionante. A certeza de um limite é clara, em ambos os exemplos. A Terra e
o Corpo Humano cobrarão o preço, mais cedo ou mais tarde. Abolir o tabagismo
e a poluição no planeta. Ingerir bebidas alcóolicas moderadamente e evitar as
queimadas. Combater a obesidade e o desmatamento criminoso. Reduzir a carga de
estresse e monitorar a mineração. Atitudes reais, com benefícios indiscutíveis.
Exemplificando, no ser humano, coloquei fotos de um fígado saudável e de um fígado cirrótico causado pela ingestão indiscriminada de
álcool.
Na natureza, uma foto de mata preservada e de outra destruída
pelas mãos do homem.
Vejam o assoreamento de um rio quando há o desmatamento da mata
ciliar...
Agora, vejam a fisiopatologia das placas ateromatosas nas artérias
do ser humano... Qualquer semelhança...
Resumindo, algumas doenças e catástrofes são inevitáveis; porém,
podemos minimizar os impactos para a natureza e para o nosso organismo.
A busca doentia pelo lucro prejudica a preservação do meio
ambiente, bem como o imediatismo e a busca pelo prazer a todo custo prejudicam a manutenção da
saúde.
Finalizando, oito dicas de Ecossaúde (termo bastante utilizado
atualmente):
- Caminhe mais;
- Dê carona;
- Economize água;
- Economize energia;
- Leia mais, produza mais;
- Alimente-se devagar;
- Consuma o necessário;
- Desacelere.
“Inconsciente de sua força,
arrogante e orgulhoso, destruiu a natureza. Dissolvido no consumo,
desumanizou-se. Amedrontado, afundou no lodo espesso do trabalho sem fim.
Ignorante de seus limites, perdeu-se de si próprio.”
Hélio
Mattar
Paralelos interessantes, Breno. Acho que a busca pelo equilíbrio que você enfoca deve mesmo nortear as escolhas das pessoas, mas o ser humano é inquieto por natureza e, muitas vezes, lesa o próprio organismo na busca incessante por respostas que parecem insatisfatórias quando tudo está "bem". Talvez nosso desafio principal não seja nortear as escolhas dos pacientes, mas sim fazê-lo entender os custos e as renúncias que cada um delas traz. Abração
ResponderExcluirLegal, Breno. Lembrei de uma entrevista do Leonardo Boff que fala sobre a relação da cultura ocidental e oriental com o meuo ambiente, bem interessante!
ResponderExcluirGrande Brenão excelente analogia e conteúdo. Grande utilidade para todos os interessados na causa. Parabéns. Repliquei para todos os alunos. Vamos juntos.
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