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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Já Montou sua Equipe?

         Acabei a faculdade, inteiramente cru, e comecei a especialização em clínica médica no dia primeiro de janeiro de 2001. Sabia que seria um período de intenso aprendizado. Tive muita sorte. Dentre as muitas coisas que aprendi na especialização, a que mais me surpreendeu foi: o verdadeiro trabalho em equipe. Além de excelentes preceptores, o grupo era muito unido e forte. Felizmente, ao final da minha especialização fui convidado para entrar para a equipe de Medicina Interna do hospital. Estava realizado!

            Talvez a falta de trabalho em equipe mais maciço na nossa classe explique parte desta falta de motivação. A maioria trabalha só. Quem opta por trabalhar sozinho, trabalha mais, estressa mais (não divide responsabilidades) e, certamente, ganha menos!

           Montar uma equipe demanda muita disposição, paciência, disciplina, tempo e sorte. Toda equipe enfrenta momentos ruins e é aí que se afirmam. A divisão de tarefas precisa ser uma constante. Equipe não nasce pronta, se constrói ao longo do tempo. Uma boa equipe precisa da experiência e vivência dos mais velhos e da empolgação e inocência da juventude. Esta mescla é fundamental.

            Outro ponto delicado que necessita de uma transparência enorme é o dinheiro. A divisão financeira deve ser clara e tendendo a equiparação em poucos anos. Exploração é incompatível com com equipe.

            Estamos vivendo um grande crescimento nos empreendimentos hospitalares no Brasil, em Belo Horizonte não é diferente. Expansões e criações de novos serviços estão a mil por hora. Como já dizia o Dr. Aloísio Nascimento, grande clínico em Sete Lagoas, "construir uma casa é fácil, difícil é construir um lar." Vários hospitais com infraestrutura impecável estão sofrendo com a carência de verdadeiras equipes. Agrupar profissionais não é montar equipe. A boa equipe precisa de um líder, uma referência. Uma liderança forte, que dê o exemplo, correta, democrática e organizada. Explorar o potencial máximo (e só isso) de cada um em prol do grupo. Um cresce puxando o outro. O apoio da alta direção é vital.

            A formação de uma equipe passa pela definição do seu foco principal. Qualquer novo membro, obrigatoriamente, deve conhecer e possuir a essência do grupo. Pensando nisso, a melhor forma de criar, expandir e perpetuar a sua equipe é criando-a. Na área de saúde, torna-se indispensável a residência/especialização. Instituições que enxergam a residência/especialização como mão de obra barata, certamente terão dificuldades para permanecerem competitivas no mercado.

            Os míopes em gestão não dividem o bolo por medo de perder a metade dele. Inocentes, serão engolidos pela concorrência ou pelo tempo. Agregar um bom profissional a sua equipe é sempre potencializar o seu poder. Lembre-se que o seu maior concorrente pode se tornar o seu melhor sócio.

            Desde o início, em 1976, sempre valorizamos a formação dos nossos especializandos e residentes. Na nossa equipe, por exemplo, somos 12, destes, 11 formados por nós mesmos! O único que não fez clínica conosco já está na equipe há 15 anos!

            O trabalho em equipe permite uma folga realmente despreocupada. Você se ausenta mas sua equipe não. Isto é qualidade de vida. Os clientes estarão sempre assistidos e o melhor, com o mesmo padrão de atendimento. Qualquer profissional descansado rende muito mais. Caso você não ligue para férias e seja autônomo, aí sim, trabalhe sozinho. Ah, mas não reclame!

            Com o passar dos anos, os membros da equipe passam a uniformizar as condutas naturalmente. Criam-se filtros naturais de segurança. Quando um não enxerga, o outro vê e a chance de erro minimiza. O paciente sente-se acolhido e satisfeito. Isto é a essência da qualidade.

            NOTA AOS GESTORES: Antes de investir em máquinas é preciso investir em equipes verdadeiras. No início, gasta-se tempo e dinheiro, isto é fato. A escolha do líder é fundamental. Os frutos serão colhidos com o tempo. Grandes empresas possuem grandes equipes. A parceria pelos resultados deve ser superior a competição e inveja individual ou de um certo grupo.

            Gostaria de homenagear meus dois padrinhos e mestres: Dr. José Olinto Pimenta de Figueiredo e Dr. Renato Anderson Neves Pinto Silva. Eles abriram as portas da Medicina Interna do Hospital Felício Rocho para mim e me ensinam, diariamente, o verdadeiro sentido da palavra equipe. A eles, devo a maior parte do que sou profissionalmente. Muito feliz, este ano começo meu R12 em clínica médica na equipe de Medicina Interna do Hospital Felício Rocho!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Gestão em Saúde: Amadorismo Angustiante

         Acabou a era do amadorismo em saúde. As instituições que não enxergarem ou que fizerem vista grossa para esta realidade estarão fadadas ao fracasso. Gestão está na moda e receitas de bolo são vendidas a um custo altíssimo. Acreditações, protocolos, indicadores e photoshop (leia aqui a excelente colocação do colega Guilherme Brauner Barcelos do Rio Grande do Sul) tornaram-se comuns. A essência e o core-business individual de cada instituição se perdem nesta falta de identidade institucional. Consultorias são importantes para se promover a arrancada, assim como as acreditações, entretanto, para crescer, a instituição precisa caminhar com as próprias pernas. Chegou a hora de fazer gestão de verdade!

         Relações profissionais de profundo amadorismo e frágeis em instituições altamente complexas. Não existe sincronia de interesses. Objetivos são de curtíssimo prazo e sem uma linha de continuidade. Os erros se repetem pela total falta de organização e comando linear. Interesses pessoais, ou de um grupo, se sobrepõem aos institucionais. A política, no final, justifica tudo. O comodismo e a recorrente frase: aqui sempre foi assim são características comuns. O crescimento alheio incomoda ao invés de orgulhar e agregar. As preocupações com os ganhos do próximo impedem o crescimento de alguns que, certamente, fracassarão no longo prazo.

            Em meio a esta batalha, eis que encontramos o pobre gestor em saúde (não me refiro aos diretores). As idéias são muitas, a autonomia minguada, o trabalho sempre dobrado, o reconhecimento  minimizado, a rotatividade de técnico de futebol brasileiro e o tesão quase sempre apagado pela falta de objetivos claros e de visão dos diretores da instituição.

            Dentre os gestores temos os próprios médicos, os enfermeiros e os não relacionados a área de saúde. Não me atrevo a dizer qual seria o melhor perfil, mas uma mistura de gestor profissional, não relacionado a saúde, com médico ou enfermeiro, assim como na Mayo Clinic, por exemplo, parece ser o mais sensato. Algumas instituições brasileiras felizmente já estão enxergando este caminho. Diferentes visões com um mesmo objetivo já são uma realidade, rara, mas existente no nosso meio.

           O enfermeiro, geralmente, é funcionário da instituição, logo, teoricamente, joga junto com os gestores, quando não o são. Não acho que seja a melhor situação, de maneira nenhuma, como já me posicionei na postagem: Cadê a Enfermeira?. Acho que a maioria dos enfermeiros sofre com esse acúmulo de funções burocráticas que tornaram-se inerentes a eles, por falta de opção e por necessidade imposta. Hoje, não existe a distinção entre enfermeiro e gestor, o que é, na minha opinião, um "erro crasso". Existem gestores excepcionais que são enfermeiros, não gostam (e isso é opção pessoal) da assistência direta ao paciente. Eles são fundamentais para a instituição. Definindo a posição não existe problema. O que é inadmissível é um enfermeiro assistencial ser cobrado apenas pela gestão e não pela qualidade da assistência em si e, o pior, sem receber nada mais por isso. Isto é uma rotina absurda no nosso meio, uma completa indefinição de valores.

        Situação igualmente aflitiva ocorre com vários médicos gestores. Na teoria, uma combinação perfeita por conhecer as duas posições. Infelizmente, uma parece apagar a visão da outra. Antes, critica o sistema,  mas, após assumir um cargo relacionado a gestão, acaba mudando seu ponto de vista. A falta de preparo e o desafio assumido apenas pela confiança, e não pela competência, fragiliza o gestor médico na maioria das vezes.

            Bakunin, anarquista e teórico político russo do século XIX, dizia que aquele que assume uma posição política superior, além de mudar de status, também muda o ponto de vista. Passa a enxergar a situação de um novo ângulo, muito diferente das suas convicções "proletárias". Poucos são os mal intencionados, a maioria, são meramente humanos.

          Sobra o coitado do gestor não relacionado a área da saúde pelejando com os médicos. Eles não ajudam, não estão preocupados com as melhorias, não coletam dados…” Por que? O médico não está ganhando nada com isso. O hospital acreditado, por exemplo, passa a ter um ganho maior nos repasses, enquanto os médicos... Poucos são os hospitais que ajudam os médicos nas suas reivindicações diante dos planos de saúde, por exemplo. Sendo assim, os médicos não se empenham em nada para melhorar a instituição, pois não conseguem enxergar, ou não lhe mostram o real retorno.

          Gestores brilhantes conseguem equilibrar os pontos de vista, da sala da diretoria ao "chão da fábrica". Gestores acima da média conseguem selecionar pessoas diferenciadas que enxergam o que eles não vêem. Gestores comuns delegam funções a pessoas comuns. Gestores medíocres não enxergam o foco principal da instituição e conhecem apenas as fórmulas de soma e subtração.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Coitado do Estresse!

              Coitado do estresse! Tudo é culpa dele. Estou acima do peso? É o estresse. Estou sem paciência? Culpa do estresse. Estou com o intestino preso ou solto? Ando muito estressado. Estou brigando em casa? Maldito estresse. Estou sem criatividade no trabalho? É o estresse. Sempre lembrado no dia-a-dia tornou-se um vilão da sociedade moderna. Coitado dele...

         Viver sem estresse seria muito chato! Ele é vital para desenvolvermos coisas novas, mudar coisas antigas, agitar águas muito paradas e para descobrirmos nosso real objetivo de vida, nosso caminho.

            Sem o estresse seria impossível viver. O estresse remete ao instinto de sobrevivência. Ele sempre vai estar lá. Cada pessoa tem o estresse que merece e na sua devida proporção. Uma viagem de avião para mim é uma alegria, mas, para o outro, pode ser um tormento e assim vai...

            O estresse é irmão da ansiedade, primo do medo e inimigo mortal da rotina. Viver sem estresse também causa estresse. O incerto e o desconhecido somados a uma pitada de desorganização geram o ambiente perfeito para ele. Definitivamente, não se dá bem com o bom-humor.

            Gostaria de agradecer formalmente ao estresse. A cada dia aprendo a viver melhor com ele. Às vezes, chego a rir dele. Vez por outra, me encurrala, mas sei que, ao final, estarei sempre aprendendo. O mundo sem estresse não teria emoção alguma. Estressar com tudo pode significar doença, não estressar com nada, só após a morte. O estresse não pode te frear. Nestes casos, você certamente está precisando de ajuda.

            A luta não é para acabar com o estresse e sim, aprender a domá-lo. Fazendo uma analogia simples, assemelha-se a um pitbull. Pode te matar, mas, se bem domesticado, torna-se um grande aliado. Sugiro que paremos de colocar a culpa somente no pobre coitado do estresse. Ele é inevitável e sempre vai existir, assim como a chuva. Precisamos é nos preparar para ele e utilizá-lo a nosso favor.

          Cansei de atender pacientes insatisfeitos com suas vidas, em casa ou no trabalho. O diagnóstico? Falta de estresse. A acomodação na zona de conforto é o antídoto para o estresse, mas um veneno para o prazer de viver. Toda acomodação, no longo prazo, tende ao fracasso. Como diz o ditado, “a diferença do remédio para o veneno é a dose”, ou seja, na medida certa, e bem indicado, o estresse sempre será benéfico.

            Desejo a todos uma pitada de estresse em todas as atividades da vida! Entenda-o e aprenda a utilizá-lo como tempero. Encare o estresse de frente! Descubra sua origem, domine-o e utilize-o ao seu favor. Não tenha medo de mudanças. Saia da sua zona de conforto! Estresse-se! A vida foi feita para ser vivida! Como dizia o nosso grande escritor e colega, João Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo.
 A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
 sossega e depois desinquieta.
 O que ela quer da gente é coragem.”

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cadê a Enfermeira?


Porque se afastaste de mim?
O que aconteceu?
Volta para o meu lado!
Estou com saudades...
Volta para cá!

O médico passava depressa
E eu nem ligava porque tinha você
Hoje você sumiu
Aparelhos modernos jamais substituirão suas mãos
Volta para cá!

Você me trocou pelo papel?
Não, não me deixe assim.
PDCA e benchmarking a dados vitais?
Só gestão não dá!
Volta para cá!

Resultado bom é resultado sentido e não anotado
Melhorar indicadores não alivia minha dor
Bater a meta ou me dar atenção?
Eis uma crítica questão
Volta para cá!

Qualidade mede-se pela atenção
Um quarto bom nunca substituirá uma boa equipe
E sua equipe precisa de você aqui também
Só sabe mandar quem sabe fazer
Volta para cá!

Não quer solução?
Marca uma reunião
É aqui que você faz a diferença
Economia, segurança e minha satisfação
Volta para cá!

As oportunidades são raras
Devem ser aproveitadas
Claro que entendo sua situação
Mas não se esqueça de mim não
Volta para cá!


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Check-up de Saúde

         Vira e mexe recebemos clientes com a intenção de realizar um "check-up". Inicialmente não apresentam queixas, se sentem bem, e nos procuram com a intenção de saber se a saúde está realmente boa. Evitar algumas doenças ou identificar outras, que diagnosticadas precocemente seriam curáveis, também são alguns dos objetivos do "check-up" de saúde. Atualmente, a maioria das pessoas associa "check-up" a exames de laboratório (colesterol, triglicérides, hemograma etc...) e de imagem (tomografia, ressonância, radiografia, endoscopia, colonoscopia etc...). 

      Gostaria de ressaltar que o "check-up" vai muito além de exames complementares. A oportunidade de exercer a medicina mais efetiva, a preventiva, não pode ser desperdiçada em uma consulta de “check-up”. Sem dúvida, precisamos de tempo para isso.

         Não existe fórmula de "bolo" em um “check-up” de saúde. Muito mais importante que exames complementares é um médico bom, da sua confiança, que te acompanhe ao longo da sua vida. Conhecendo a sua história e a dos seus familiares, a indicação dos exames se torna muito mais precisa e verdadeiramente útil. O desperdício de dinheiro e de preocupação com exames falsos positivos, que não vão alterar em nada a vida do cliente, são cada vez mais comuns no "check-up receita de bolo" difundido no nosso meio.

           Sabemos que, além de prevenir ou de diagnosticar precocemente, o controle de algumas doenças silenciosas, desde o início, pode impedir ou retardar as suas complicações. Os exemplos clássicos são a hipertensão e o diabetes. A relação médico-paciente é indispensável no controle destas doenças.

        Didaticamente, dividi o “check-up” em prevenção e controle. O sexo, a idade, a história clínica e familiar definem os exames a serem pedidos e a sua frequência. Trabalhos científicos são realizados com o intuito de definir os exames realmente benéficos na prevenção de diversas doenças, mesmo assim, ainda existem muitas dúvidas. Lembre-se que alguns exames preventivos também possuem datas para não serem realizados mais (colonoscopia, PSA e mamografia são alguns exemplos). Abaixo tentei facilitar o entendimento dos principais pontos a serem abordados e lembrados em um "check-up" de saúde. 


Prevenção:
  1. Câncer - Pele (Melanoma); Pulmão; Colorretal; Mama; Colo de Útero; Próstata
  2. Dor Lombar
  3. Doenças Sexualmente Transmissíveis
  4.  Infarto e Acidente Vascular Cerebral (Derrame)
  5. Obesidade
  6. Osteoporose
  7. Doenças Bucais
  8. Vacinações
  9. Quedas em Idosos
  10. Acidentes Automobilísticos
  11. Abuso de Drogas (tabaco, álcool etc...)

Controle:
  1. Hipertensão Arterial (Pressão Alta)
  2. Diabetes 
  3. Controle do Colesterol

      Este é um tema complexo, controverso (principalmente em se tratando de períodos), variável e bem extenso. Sugiro uma avaliação com o seu clínico geral de confiança para uma avaliação global e a definição correta dos exames a serem solicitados e dos especialistas a serem procurados. Geralmente as consultas de prevenção da saúde devem ser realizadas de 3 em 3 anos até os 50 anos e a partir daí, anualmente. Vale ressaltar que o "check-up" não impede o aparecimento das doenças. A prevenção e o controle tornam-se efetivos a partir de atitudes do dia-a-dia.