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sexta-feira, 28 de março de 2014

Dias Melhores...

Dia 19 de novembro de 2013, o ano do Galo, vivi uma das experiências mais bacanas e emocionantes da minha vida: virei papai! Maria Luisa veio ao mundo de parto normal e chegou saudável e linda como a mamãe (graças a Deus). A postagem de hoje tinha tudo para ser sobre essa experiência mágica que muda radicalmente nossas vidas, mas, ao invés disso, vou discutir sobre a medicina atual e os seus caminhos preocupantes.

Ela havia optado pelo parto normal e, felizmente, optou pelo médico certo. Todo o pré natal foi realizado com ele. Todas as dúvidas foram esclarecidas por ele. Toda a insegurança foi se dissolvendo com ele. Todo o processo de trabalho de parto foi conduzido por ele (e não foram poucas horas não – do período de latência até o nascimento foram 27 horas!). Todo o acompanhamento pós-parto foi feito por ele. Em tempos de uma medicina mercantilizada e nivelada pela baixíssima qualidade, ainda existem médicos verdadeiros. O verdadeiro "Dono" do paciente ainda existe. Dr. Henrique faz parte dessa espécie em extinção.

No início do trabalho de parto, ela estava uma "pilha de nervos". Dor, insegurança, incerteza e medo estavam no limite. Marinheiros de primeira viagem, somos absolutamente leigos na arte de domar nossos sentimentos. Eis que surgiu o "domador". A chegada do Dr. Henrique foi uma dose cavalar de tranquilizante para ela e para mim. Ele estava lá e assim ficou até o final. Transbordando confiança, simpatia, disponibilidade, respeito e profissionalismo, o trabalho de parto tornou-se um momento prazeroso.

Desde o início, a opção sempre foi pelo parto mais seguro, independente da via. Óbvio que a indicação precisa definiria a via do parto. Atualmente, isso definitivamente não corresponde a nossa realidade. Correndo tudo bem, com técnica e, principalmente, tempo, a indicação de cesariana é exceção; porém, tornou-se a regra no nosso meio.

O mercado de saúde vem caminhando para o lado errado. Infelizmente, enquadrou a medicina no paradigma capitalista: "tempo é dinheiro". Em saúde, isso é um perigo. Remunerar por produção, sem valorizar a qualidade, nivela nossa profissão por baixo. Todos sabem que medicina não combina com pressa.

Saúde não dá dinheiro. Uma boa consulta clínica e a prevenção não remuneram bem nem o profissional e nem a instituição. As vias de parto são os exemplos clássicos da mercantilização sobrepondo-se as evidências (leia mais na postagem "Vias de Parto"). As melhores práticas não são iguais a lucro tangível. Nada mais saudável do que a gravidez; assim, a gestação é desvalorizada pelo "mercado burro" da saúde. Esse é o motivo do fechamento de inúmeras maternidades. No balanço da saúde, remuneram-se procedimentos e exames altamente tecnológicos. A atenção passou a ser preterida. A medicina despersonalizada, de volume e fraca tecnicamente, tomou conta. Perdemos nossos clientes, nossos fiéis escudeiros em épocas não tão distantes. Hoje estamos sós, fracos e, literalmente, esculachados pelo governo e operadoras.

Outro aspecto intrigante e inexplicável é o fato de um médico com vários anos de experiência e um recém formado serem iguais frente as fontes pagadoras. A remuneração é a mesma. O médico mais experiente se desgasta por não ter sua evolução profissional reconhecida. Uma pequena parte abandona os convênios, mas a maioria acaba entrando no jogo. A baixa qualidade tornou-se uma constante. Não precisamos evocar os cubanos (apesar de ser, terminantemente, contra este programa), nossa medicina também está fraca. Felizmente, temos as gratas exceções que precisam ser valorizadas, nem que seja com um humilde texto de agradecimento.

Após a dilatação adequada do colo do útero, foi realizada a anestesia. A partir daí, tudo correu com extrema tranquilidade. Sentado na cadeira ao lado da cama, vi a cena que não me furtei a documentar e compartilho com vocês abaixo: o trabalho de parto da minha esposa. O Dr. Henrique fazendo a dinâmica uterina com a Camila, anestesiada, em pé e conversando com as amigas via celular. Este é o trabalho de parto na era da tecnologia, porém, sem perder o poder do toque e do afeto do médico.


Malu nasceu as 22:17. Além do sentimento inigualável da paternidade, senti orgulho da minha profissão e esperança em dias melhores. A medicina exercida da forma mais pura, com atenção incondicional, tempo e temperada adequadamente pela tecnologia jamais vai perder o seu espaço. Muito obrigado Dr. Henrique! Você realmente fez a maior diferença e estará sempre nas nossas melhores lembranças.