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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Equipe de uma pessoa só

        Dr.Juca veio de família humilde e sempre foi um batalhador. Muito estudioso, formou-se em medicina e iniciou uma bela trajetória. Na região, Dr.Juca era considerado o melhor. Atencioso e muito dedicado, criou uma clientela expressiva. Atendia exclusivamente em consultório e sempre trabalhou sozinho. Os dois filhos não fizeram medicina muito pela ausência do pai. Dr.Juca ficou famoso por suas curas ditas milagrosas. Ao final de 54 anos de dedicação exclusiva aos seus clientes, por problemas de saúde, abandonou a medicina e aposentou-se com relativo sossego financeiro.
      A história do Dr.Juca demonstra um "desperdício" de sabedoria muito comum no nosso meio. Experiência e vivência na medicina deveriam ser sempre passadas para os mais jovens. Minimizar os erros e encurtar o caminho para as novas gerações é um ato evolutivo. Conto esta história para exemplificar, de maneira prática, uma das principais vantagens do trabalho em equipe na prestação de serviços em saúde. Caso você não trabalhe em equipe, reavalie seus conceitos.
     A formação de uma família tem como principal objetivo a manutenção da espécie, das idéias, crenças e costumes. Família é a certeza da continuidade de princípios e atitudes, além dos genes. Em analogia, o segredo da perenidade e do crescimento na prestação de serviços é a formação de uma boa equipe.
      O trabalho em equipe é fundamental para o sucesso individual pleno. O sucesso profissional pode ser alcançado individualmente mas geralmente às custas do sacrifício pessoal e familiar. Na área médica, historicamente, a prestação de serviços sempre foi muito individual e centrada em um único profissional. O médico sacerdotal e 100% disponível para os seus clientes cede espaço para o médico que trabalha em uma equipe que está 100% disponível para os seus clientes. Os clientes têm o médico de referência mas conhecem os outros membros da equipe que oferecem a mesma qualidade no atendimento em caso de férias, congressos e imprevistos (de saúde, por exemplo). Trabalhar em equipe é um requisito indispensável para a qualidade de vida.
       A formação de uma boa equipe é o ponto principal e mais complexo. O ideal é, literalmente, você criar a sua equipe. A residência/especialização médica torna-se peça fundamental neste processo. Durante a residência, além de contribuir para a formação do jovem médico, você tem nas mãos uma fonte perfeita de excelentes profissionais. "Moldar" o jovem profissional com as características e os valores da equipe facilitam bastante a escolha de um novo membro e o crescimento da mesma. Após a entrada do novo membro da equipe, a assistência dos mais velhos continua primordial até a estabilização profissional e emocional do mais jovem. Esta transição precisa ser gradual e valorizada por toda a equipe. O jovem não ocupa o lugar do velho, e sim, novos espaços.
        O medo de dividir impede o crescimento real e perene do indivíduo. O trabalho em equipe permite que suas e atitudes permaneçam vivos e influenciando as pessoas mesmo após o abandono da profissão. Agregando bons profissionais a sua equipe, agrega-se qualidade, ocupa-se espaço, divide-se responsabilidades, ganha-se tempo para sua família e seu hobby, além de multiplicar os lucros (pode ter certeza). O seu colega excepcional não deve ser visto como concorrente, e sim, como sócio.
       A equipe precisa trabalhar em sincronia e nivelada nas obrigações e financeiramente. A exploração de colegas tornou-se prática comum entre médicos (e em outras profissões também), apesar de proibida pelo código de ética médica. Tenha certeza que a divisão justa mantém a equipe "azeitada" e motivada, o mais novo pode até receber menos no início mas com perspectiva de equidade financeira no decorrer dos anos. Caso isso não ocorra, a equipe não trabalhará com todos os seus membros satisfeitos e isto é o primeiro passo para a ruptura. A sensação de estar sendo explorado é muito pior que a remuneração propriamente dita.
Equipe em saúde é...
  • Ajudar e ser ajudado. 
  • Aparar arestas de maneira profissional. 
  • Divisão igual de tarefas e de dinheiro. 
  • Crescer junto. 
  • Unir características diferentes para potencializar a equipe. 
  • Hierarquia saudável. 
  • Defender a residência/especialização para garantir a perenidade e o crescimento. 
  • Trabalhar agregado a uma instituição.


Veja a figura abaixo, enviada pelo colega Pedro Nogueira Duarte. Sensacional!


Um comentário:

  1. Os bons médicos como o Dr. Juca ficam escondidos em seus consultórios por causa do estrelismo que envolve a medicina. O Dr. Juca não é convidado para falar em congressos, dar entrevistas, assinar colunas semanais em jornais de grande circulação. Tampouco ganha as honrarias e os títulos reservados aos medalhões. E o pior é que as ditas estrelas normalmente tem um desempenho sofrível do ponto de vista que mais deveria importar para um médico: ajudar, de fato o paciente que o procura. O Dr. Juca e seus pacientes sabem que estão muito acima dessa fogueira de vaidades e acabam vivendo muito bem em seu pequeno universo paralelo a ela.

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