Ontem estava pensando sobre as melhores qualidades de
um médico. Empatia, cumplicidade com o seu paciente, bom humor, conhecimento,
letra legível, experiência, tranquilidade e algumas outras já discutidas neste
espaço. Subitamente, me veio a cabeça uma qualidade pouco discutida mas
indispensável ao bom profissional de saúde: o medo.
Não o medo que trava, inibe e faz errar mas o medo
saudável. Aquele de prescrever a dose errada de uma medicação, dos efeitos
colaterais, de um diagnóstico errado ou de uma conduta inadequada. O “medo bom”
do médico inexperiente mas estudioso e realmente preocupado com o seu paciente.
O medo que promove uma atenção muito maior a cerca do caso. As chances de erro
diminuem drasticamente. Em medicina, na maioria dos casos, a observação e um
tempo a mais para estudar a situação com embasamento científico, são possíveis
e salutares. Estudar o caso ao invés de agir intempestivamente geralmente é muito melhor e mais seguro.
Há mais de dez anos venho participando da formação de
clínicos gerais no Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, através do programa
de residência e especialização médica. O medo dos residentes me deixa muito mais
tranquilo. Prefiro o residente medroso ao corajoso. O questionador ao “sabe-tudo”.
O estudioso ao passivo.
O primeiro plantão é motivo de muito medo, seja na
enfermaria, no pronto-socorro ou na unidade de terapia intensiva. Todos nós,
médicos, passamos ou passaremos por isso. Este medo é bom, pode acreditar.
Sempre falo para os residentes diante de um plantão ou de uma nova
empreitada: “Enquanto vocês estiverem com medo, eu fico tranquilo. Sei que
vocês dão conta do recado. Meu medo só aparece quando vocês perdem os seus.”
Vale ressaltar que a função do medo não é limitar e
sim, manter a atenção ligada. Os números mostram que a maioria dos processos
contra médicos ocorrem após 15 anos da formatura. Isto apenas corrobora o fato
de que, o medo gerando atenção, previne o erro médico. O profissional que já atua
há mais tempo, ganha experiência e uma confiança perigosa, as vezes excessiva,
perde o medo e descuida-se do paciente. A curva apresentada no final desta
postagem deixa isto muito claro e demonstra outro fato interessante. A medida
que o médico vai ganhando experiência e conhecimento, o medo (estresse) vai
voltando e o número de processos volta a reduzir.
Toda mudança gera insegurança e medo. Sair da zona de
conforto faz crescer. Novos desafios são essenciais para a vida. Caso você
esteja, há muito tempo, sem sentir aquela dor de barriga de ansiedade e medo, reveja
seus conceitos. Viver sem medo também é muito estressante.
O “medo bom” promove a procura pelo conhecimento, a
atenção redobrada com o paciente e o bom atendimento. Nunca esqueça-se de
manter este medo saudável. Cultive-o sempre! O médico com “medo bom” é mais
seguro para o paciente. A experiência passa a ser perigosa se ela anula o medo.
Carmen C. Moran, (1998) "Stress and emergency work experience: a non-linear relationship",
Disaster Prevention and Management, Vol. 7 Iss: 1, pp.38 - 46
Muito interessante! Lembrei de uma palestra que dizia sobre o medo. Basicamente que o medo pode ser bom ou ruim dependendo da atitude da pessoa. Quando a pessoa age com sentimento ela age com coragem e isso gera auto-confiança. O medo passivo que não leva a nada não gera nada e também é muito prejudicial. Ter medo e aprender com ele é uma questão de maturidade, parabéns! abraço
ResponderExcluir