Na última
semana, muito se comentou sobre a atitude de gestores do Rio de Janeiro, que
resolveram colocar chips nos jalecos dos profissionais de saúde na Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) de Mesquita, na Baixada Fluminense. A medida, segundo
a empresa responsável pela gestão da unidade, visa
controlar a frequência de seus 150 servidores e evitar o desvio de materiais.
Acredito
que essa medida merece uma discussão mais sensata, ponderada e isenta de conflitos
de interesse.
A
colocação de chip nos jalecos dos profissionais que cumprem suas funções e
carga horária adequadamente não é motivo de brigas ou discussões. O
profissional é contratado para trabalhar com a carga horária definida e
espera-se que ele cumpra tal horário. Não entendo, então, qual o problema em
monitorar a frequência.
“Monitorar
com chip é coisa de supermercado ou para animais.” Argumento falho que
demonstra total falta de conhecimento. O chip não pode e nem deve ser rotulado
dessa forma, pois possui ainda uma infinidade de utilidades, sendo o
monitoramento da frequência a mais simples delas. O uso dessa
tecnologia, ainda cara, apenas para monitorar frequência é de fato um
desperdício, jamais uma ofensa.
As mais
modernas técnicas de gestão vêm lançando mão do chip para assegurar,
principalmente, a segurança do paciente. O RFID (do inglês Identificação por
Rádio Frequência) ainda engatinha no setor de saúde. Vocês sabiam que
tecnologias semelhantes já são utilizados para lembrar o profissional de lavar
as mãos antes de examinar o paciente, por exemplo? Sabiam que estudar o
deslocamento dos profissionais e dos pacientes, dentro de uma unidade de saúde,
pode otimizar os fluxos internos com ganho significativo de dinheiro, tempo e
segurança? O controle de estoque já é uma questão básica e comum. A segurança
na administração de medicamentos também vai aumentar muito com essa nova
tecnologia.
A
polêmica em relação ao uso do chip ocorre, na verdade, por evidenciar outro problema.
Utilizar carga horária para reivindicar melhores salários é muito comum em
saúde. A carga horária está realmente sendo cumprida por todos? Tenho certeza
que a maioria cumpre, porém, existem inúmeros profissionais que não o fazem. Se
vou pagar por um serviço, o mínimo que preciso exigir é a presença do
profissional, ou não?
O que não
pode acontecer, na minha opinião, por total falta de coerência, é exigir
melhores salários por uma carga horária “X” e querer trabalhar 3/4 de “X”.
Sabemos que isso acontece. Atitudes compensatórias provenientes da elasticidade
moral devem ser abolidas. Um erro (baixos salários ou más condições) não se
corrige com outro (serviço mal feito ou incompleto). Quem paga quer qualidade,
quem aceita realizar o serviço, ciente da remuneração, deve procurar fazê-lo de
maneira bem feita. Acredito nisso. Não estão pagando bem ou não oferecem as
mínimas condições para se trabalhar com tranquilidade? Reúna forças para
melhorar a situação ou procure outro serviço. Simples assim.
Finalizando,
defendo outro argumento contra a utilização dessa tecnologia no setor público.
A saúde está subfinanciada e utilizar o que há de mais moderno e caro para
monitorar frequência é, no mínimo, um desperdício absurdo. Colocar uma pessoa
na porta da instituição, monitorando a presença e a permanência, certamente
ficaria bem mais barato e tão resolutivo quanto. RFID sem um desfibrilador que
funcione, por exemplo, também é uma vergonha. Questão apenas de definir as
reais prioridades.
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