O bom currículo pode abrir muitas portas, mas
não as mantem abertas. O currículo é apenas um parâmetro de avaliação do
profissional. Óbvio que as realizações profissionais prévias são muito
importantes, isso é indiscutível; porém, currículo cheio não é sinônimo de boa
formação. O que vem acontecendo nas faculdades é que me intriga... Uma
compulsão coletiva por currículos abarrotados de “feitos” inúteis para a
formação. Claro que é preciso avaliar, de alguma forma, a performance do aluno,
mas acrescentar opções mais inteligentes e práticas poderia ser discutido.
Saber a teoria é tão importante quanto a
relação com o paciente. Na faculdade, avaliações de condutas deveriam ser mais
frequentes, valorizadas e estimuladas, embora sejam intangíveis. Cabe ao
professor equilibrar a formação técnica e a humana, ambas importantes. Nenhuma
das duas se esgota nunca. A formação técnica é mais avaliada porque existem
fatores tangíveis para mensurá-la, como presença, provas, arguições e
trabalhos. A formação humana dificilmente é avaliada e trabalhada, formalmente,
durante o curso. O aluno completamente descompensado emocionalmente e “bom de
prova” entra, com facilidade, no mercado de trabalho.
O profissional de saúde precisa aprender a
lidar é com gente. Saber escutar, falar na hora certa, ajudar o próximo,
reconhecer suas fraquezas, desenvolver a empatia, praticar a paciência e
controlar a impulsividade e o imediatismo são bem mais importantes que uma
avaliação, na minha opinião. O inverso também é verdadeiro. Conheço inúmeros
profissionais excepcionais nas relações interpessoais, mas muito fracos
tecnicamente. Esses também não se sustentam. O conhecimento é fundamental para
uma prática segura e eficaz.
A formação humana exige excelentes
professores, maduros e experientes. Geralmente, atinge-se esse grau com o
tempo. Infelizmente, o Brasil ainda não aprendeu a valorizar os seus
professores, em nenhum grau de ensino, seja no maternal ou no doutorado.
Formar, manter e valorizar o professor vem se tornando um trabalho cada dia
mais difícil. A nossa educação é reflexo direto dos nossos pais, em primeiro
lugar, e dos nossos professores. Sucatear a educação é banalizar o futuro.
O caminho que já está sendo trilhado, pautado
na formação técnica excessiva, nos levará, inexoravelmente, para uma sociedade
fria, cara e infeliz. Não sentir desconforto com o desconforto próximo é
preocupante. Não precisamos humanizar a medicina e sim, a educação das próximas
gerações.
Para finalizar, uma frase do professor Luiz
Otávio Savassi Rocha, ilustríssimo patrono da minha turma: "Humanizar a
medicina é igual vegetalizar a botânica!"
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