Ontem fui convidado
para falar sobre automedicação e, ao matutar sobre o tema, percebi que os pouco
mais de seis minutos foram pouco para passar o que realmente penso e enxergo
sobre este tão delicado tema. Sendo assim, hoje divagarei um pouco mais...
No Brasil, a
automedicação é uma rotina endêmica, perigosa e subvalorizada. Inúmeros motivos
levam uma pessoa leiga, e até profissionais de saúde, a utilizarem medicações
que pouco conhecem em situações de falsa certeza absoluta. Não discutirei
diagnósticos, e sim cinco motivos da automedicação.
1. Atenção
primária subvalorizada em detrimento de uma política de saúde voltada para o
tratamento, e não para a prevenção. A dificuldade para marcar uma consulta
clínica em consultório é um dos principais motivos para a automedicação. O
paciente não consegue marcar com um médico no consultório, não tem
possibilidade de enfrentar uma fila de 5 horas no pronto-socorro...
2. Controle
inefetivo e ineficaz das vendas de medicamentos. Falta atitude política. A venda
sem receita médica, por mais simples que possa parecer, é uma rotina perigosa.
A proibição da venda de antibióticos sem receita foi um avanço indiscutível,
tanto cultural quanto bacteriológico, da nossa sociedade. Defendo a proibição
de venda sem receita para todos os medicamentos. O médico precisa estar perto
do paciente, principalmente, para controlar um quadro de saúde, aparentemente
simples, que pode se complicar.
3. Cultura
da Sapiência em Saúde alimentada pelo “colega” Dr.Google. Informação fácil, sem
formação, não é saber. Realmente considero extremamente fácil prescrever um
analgésico simples; entretanto, saber se é realmente dele que o paciente
precisa, exige formação, e não só informação. Lembrem-se que o paracetamol,
considerado inofensivo por muitos, é um dos maiores causadores de transplante
de fígado nos Estados Unidos. Os anti-inflamatórios, utilizados
indiscriminadamente até por médicos, podem levar a insuficiência renal aguda
com necessidade, inclusive, de hemodiálise. Uma dor na “boca do estômago” pode
ser uma indisposição gástrica, fome ou um infarto do coração.
4. Perda
de “respeito” com a doença. Quando somos acometidos por qualquer doença,
tendemos a banalizá-la. Postergar a ida ao médico é característica da maioria
dos brasileiros. Tentar melhorar com um remedinho antes de procurar o médico é
muito comum.
5. O
lucro fala mais alto que a razão. Propagandas de medicamentos para o público
leigo deveriam ser, terminantemente, proibidas. As evidências científicas são
“escondidas” em detrimento de ganhos financeiros. O bem estar do paciente passa
para o segundo plano e isso é muito perigoso. A utilização de ferramentas
poderosas de marketing para vender medicamentos deveria começar a ser discutida
de maneira mais transparente e menos remunerada.
Era isso, por
enquanto...
Breno,
ResponderExcluirAcrescentaria um outro problema: um país que não está preparado para cuidar de condições crônicas. O país está envelhecendo, e os subsistemas público e privado de saúde estão desenhados para cuidar de doenças agudas. Pior: com Manchester na Atenção Primária!
Breno,
ResponderExcluirConcordo contigo em tudo e acrescentaria que também deveriam ser proibidas as viagens e por que não dizer, verdadeiras orgias, exclusivas para médicos, pagas pela indústria farmacêutica. Além disso, sabe-se que professores de faculdades de medicina também ganham dinheiro dessas mesmas indústrias por fora, para "ensinarem" seus alunos receitarem seus medicamentos.