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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Santo de Casa não Faz Milagre


     O provérbio acima é um paradigma na área de saúde, muito mais frequente do que imaginamos. Em uma rápida pesquisa, atribui-se este provérbio a Jesus, na bíblia (Marcos 6, 4-5), que diz: “Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa. E não podia fazer ali nenhum milagre...

     Apesar de bem antigo segue atual. Qual seria o principal motivo? Esta talvez seja a minha grande dificuldade em relação à medicina. A tendência natural diante de uma queixa de um familiar é a banalização. “Não é nada não... Fica tranquila que vai passar... Toma só um analgésico simples... Se não melhorar procuramos um médico... Agora não, depois eu afiro a sua pressão...” e assim vai. A atenção que sobra para os meus pacientes é, muitas vezes, escassa com aqueles que mais amo.

     Seria a vontade de descansar, de se evitar o trabalho em casa? Não deixa de ser uma justificativa plausível mas não se encaixa em mim. Meu celular fica disponível 24 horas por dia, para todos os meus pacientes, e atendo todas as chamadas sem o menor problema. Além disso, qual médico não estuda após o expediente? Ou estudo não é trabalho?

     Seria o envolvimento emocional intenso que nos faz evitar alguns problemas de saúde dos nossos familiares? Pode ser, entretanto, o envolvimento com alguns pacientes também é muito frequente, apesar de totalmente diferente.

     Podem até dizer que fiz milagre na ocasião já contada aqui com o papai (Papai Ganhou na Loteria) mas estou falando é do dia-a-dia. Daqueles dias comuns, inundados de rotina e que são os mais frequentes.

     A história muda quando o nosso familiar próximo precisa de atenção médica real (em casos de urgência, por exemplo). Somos quem mais cobramos atenção, disponibilidade e eficiência do sistema. Assumimos a linha de frente e muitas vezes até atrapalhamos o colega que assumiu o caso. A atenção escassa do dia-a-dia brota abundante de uma hora para a outra. Peso na consciência????

     Precisamos lembrar que as queixas relacionadas à saúde, vindas de dentro de casa, também são pedidos de atenção. A falta de um beijo, de um abraço ou de uma conversa sem pressa são as principais carências. Reconheço minha limitação.  Assumir os problemas de saúde dos nossos familiares não é uma boa idéia e ainda é muito perigoso. Encontrar um médico de confiança que assuma esta responsabilidade é o melhor caminho.

     Não pretendo e nem vou assumir a saúde dos meus familiares mas vou oferecer, no mínimo, a mesma atenção que dispenso aos meus pacientes. Dizem que para se resolver um problema é preciso reconhecê-lo antes, sendo assim, o primeiro passo foi dado. Agora, é fazer e parar de divagar...

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