Trabalhos recentes associam a utilização de várias medicações ao aumento da mortalidade em idosos. Os mais comuns e perigosos são os utilizados para “tranquilizar” o idoso, os conhecidos neurolépticos.
Na medicina atual, a idade vem se tornando apenas um detalhe em muitas ocasiões. A quantidade de idosos independentes vem crescendo muito nos últimos anos. Antigamente, um paciente de 95 anos era algo raríssimo, hoje, em uma única noite de plantão, às vezes, internam-se 2 idosos com mais de 100 anos!
A velhice chega quando a independência se vai, seja ela física ou financeira. Sendo assim, a partir do momento que inicia-se esta dependência, seja aos 70 ou 90 anos de idade, iniciam-se as dificuldades para as famílias e para os velhinhos. Dificuldades financeiras e emocionais de encarar o envelhecimento de uma pessoa querida são, muitas vezes, fatores de desestabilização familiar.
Os cuidados com o idoso são fundamentais para sua qualidade de vida. A população mundial está envelhecendo. O idoso dependente demanda tempo, atenção, carinho, dinheiro e principalmente, paciência. O acompanhamento diário torna-se essencial, porém, extremamente desgastante. A velhice é uma regressão à infância.
A falta de preparo para encarar a velhice é o principal problema. Os quadros demenciais vêm se multiplicando devido ao aumento da expectativa de vida. A medicina compreende muito pouco este processo e a luta para desacelerar o envelhecimento continua mobilizando bilhões nas pesquisas de novas drogas. A vontade de permanecer eternamente ativo é inerente do ser humano e nós não somos criados para envelhecer.
Acredito que deveríamos encarar a velhice e a grande maioria dos quadros demenciais, obviamente afastando as causas reversíveis, como um processo natural e não como doença. Assim como toda máquina, o ser humano também possui sua vida útil. Alguns duram mais, outros menos. Alguns apresentam “defeitos” mais cedo, precisam de manutenção freqüente e outros “estragam” subitamente. A única certeza é a incerteza do prazo de validade.
Sendo assim, na maioria das vezes, os sedativos e calmantes, deveriam ser oferecidos aos acompanhantes e não aos idosos. Ao invés de 10 gotas de um remédio X, talvez 10 minutos de atenção sejam mais terapêuticos. O idoso, assim como as crianças, precisa é de atenção.
Daí vem a questão principal: Será que o aumento da mortalidade com o uso dos neurolépticos em idosos está relacionada apenas com a farmacodinâmica? Acredito que não. Frequentemente a utilização dos neurolépticos nos idosos é para facilitar os cuidados. O idoso passa a dormir melhor, torna-se passivo e pára de dar “trabalho”. As doses vão aumentando progressivamente, assim como a introdução de novas medicações. A manipulação das doses é feita pela própria família que desconhece os riscos. Superdosagem e as interações medicamentosas são os verdadeiros vilões desta história. Gradativamente, o idoso torna-se mais dependente, não mais pela simples evolução da doença, mas muitas vezes, pelos efeitos colaterais das medicações. A intoxicação medicamentosa no paciente idoso é muito mais comum do que se imagina. O idoso perde o equilíbrio, a segurança e a independência. Acaba indo para a cama. Quedas, trombose venosa, escaras, disfagia, desnutrição, infecções de repetição e abandono são os verdadeiros vilões que estão diretamente relacionados ao aumento da mortalidade.
Diariamente recebemos pacientes idosos com prostração. Hidratação e suspensão de todas as medicações é a solução em quase todos os casos. A melhora na maioria dos casos é impressionante.
Tudo bem, mas como fazer para minimizar estes problemas? Simples. Comece a pensar neles desde já, prepare-se psicologicamente e financeiramente para sua velhice. Não adianta dizer que com muito amor não existirão os problemas. Amor não enche barriga e não paga o plano de saúde. O inverso também é verdadeiro. Não adianta ter muito dinheiro, os melhores acompanhantes e o melhor plano de saúde isoladamente. Cultive amizades e valorize sempre sua família. Você irá precisar deles. Cansamos de ver idosos abandonados por suas famílias dentro dos hospitais. Dificuldades sociais para a alta hospitalar tornaram-se uma rotina. A comodidade da internação reflete a comodidade e a falta de preparo da família diante de uma situação muitas vezes certa. O equilíbrio financeiro e psicológico é difícil, mas fundamental, e deve ser buscado sempre. Atenção e dinheiro andam juntos nesta situação.
Não sou contra as medicações neurolépticas desde que usadas com responsabilidade. Sempre que possível, recomendo a retirada. Idoso não combina com remédio, quanto menos melhor. Minha sugestão? Menos remédio e mais atenção!
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