Dia 19 de
novembro de 2013, o ano do Galo, vivi uma das experiências mais bacanas e
emocionantes da minha vida: virei papai! Maria Luisa veio ao mundo de parto
normal e chegou saudável e linda como a mamãe (graças a Deus). A postagem de hoje
tinha tudo para ser sobre essa experiência mágica que muda radicalmente nossas
vidas, mas, ao invés disso, vou discutir sobre a medicina atual e os seus
caminhos preocupantes.
Ela havia
optado pelo parto normal e, felizmente, optou pelo médico certo. Todo o pré natal
foi realizado com ele. Todas as dúvidas foram esclarecidas por ele. Toda a
insegurança foi se dissolvendo com ele. Todo o processo de trabalho de parto
foi conduzido por ele (e não foram poucas horas não – do período de latência
até o nascimento foram 27
horas!). Todo o acompanhamento pós-parto foi feito por ele. Em tempos de uma
medicina mercantilizada e nivelada pela baixíssima qualidade, ainda existem
médicos verdadeiros. O verdadeiro "Dono" do paciente ainda existe.
Dr. Henrique faz parte dessa espécie em extinção.
No início
do trabalho de parto, ela estava uma "pilha de nervos". Dor,
insegurança, incerteza e medo estavam no limite. Marinheiros de primeira viagem,
somos absolutamente leigos na arte de domar nossos sentimentos. Eis que surgiu
o "domador". A chegada do Dr. Henrique foi uma dose cavalar de
tranquilizante para ela e para mim. Ele estava lá e assim ficou até o final. Transbordando confiança,
simpatia, disponibilidade, respeito e profissionalismo, o trabalho de parto
tornou-se um momento prazeroso.
Desde o
início, a opção sempre foi pelo parto mais seguro, independente da via. Óbvio que a indicação precisa
definiria a via do parto. Atualmente, isso definitivamente não corresponde a
nossa realidade. Correndo tudo bem, com técnica e, principalmente, tempo, a
indicação de cesariana é exceção; porém, tornou-se a regra no
nosso meio.
O mercado
de saúde vem caminhando para o lado errado. Infelizmente, enquadrou a medicina
no paradigma capitalista: "tempo é dinheiro". Em saúde, isso é um
perigo. Remunerar por produção, sem valorizar a qualidade, nivela nossa
profissão por baixo. Todos sabem que medicina não combina com pressa.
Saúde não
dá dinheiro. Uma boa consulta
clínica e a prevenção não remuneram bem nem o profissional e nem a instituição.
As vias de parto são os exemplos clássicos da mercantilização sobrepondo-se as
evidências (leia mais na postagem "Vias de Parto"). As melhores
práticas não são iguais a lucro tangível. Nada mais saudável do que a gravidez;
assim, a gestação é desvalorizada pelo "mercado burro" da saúde. Esse é o
motivo do fechamento de inúmeras maternidades. No balanço da saúde, remuneram-se
procedimentos e exames altamente tecnológicos. A atenção passou a ser
preterida. A medicina despersonalizada, de volume e fraca tecnicamente, tomou
conta. Perdemos nossos clientes, nossos fiéis escudeiros em épocas não tão distantes. Hoje estamos
sós, fracos e, literalmente, esculachados pelo governo e operadoras.
Outro
aspecto intrigante e inexplicável é o fato de um médico com vários anos de
experiência e um recém formado serem iguais frente as fontes pagadoras. A
remuneração é a mesma. O médico mais experiente se
desgasta por não ter sua evolução profissional reconhecida. Uma pequena parte
abandona os convênios, mas a maioria acaba entrando no jogo. A baixa qualidade
tornou-se uma constante. Não precisamos evocar os cubanos (apesar de ser,
terminantemente, contra este programa), nossa medicina também está fraca. Felizmente, temos as gratas
exceções que precisam ser valorizadas, nem que seja com um humilde texto de
agradecimento.
Após a
dilatação adequada do colo do útero,
foi realizada a anestesia. A partir daí, tudo correu com extrema tranquilidade.
Sentado na cadeira ao lado da cama, vi a cena que não me furtei a documentar e
compartilho com vocês abaixo: o trabalho de parto da minha esposa. O Dr.
Henrique fazendo a dinâmica uterina com a Camila, anestesiada, em pé e conversando com as amigas via
celular. Este é o trabalho de parto na era da
tecnologia, porém, sem perder o poder do toque e do afeto do médico.
Malu
nasceu as 22:17. Além do sentimento inigualável da paternidade, senti orgulho
da minha profissão e esperança em dias melhores. A medicina exercida da forma
mais pura, com atenção incondicional, tempo e temperada adequadamente pela
tecnologia jamais vai perder o seu espaço. Muito obrigado Dr. Henrique! Você realmente fez a maior diferença e estará sempre nas nossas melhores lembranças.