Quem sou eu

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Alegria Etílica


Há 11 anos corro a Volta Internacional da Pampulha e, normalmente, fico sem ingerir bebidas alcoólicas alguns dias antes da prova. Tornou-se uma regra para mim. Sinto-me melhor e evito algumas complicações durante o percurso. O período de abstinência gira em torno de 3 a 4 semanas apenas, mas tem um efeito muito benéfico para o corpo e, principalmente, para a mente. Como a prova é em dezembro, mês das comemorações, participo de várias festas, sem bebida alcoólica. Nessas oportunidades, percebo o quão difícil é parar de beber, mesmo socialmente.

O alcoolismo é uma das dependências mais frequentes em nosso meio e uma das mais banalizadas. O álcool é uma droga liberada e socialmente aceita. Ingerir bebidas alcoólicas é uma prática normal desde a adolescência, para a grande maioria das pessoas. Associa-se o álcool a alegria, descontração e entretenimento. As campanhas nunca sugerem a abstinência, e sim, a moderação. Nas festas, a diversão torna-se impossível sem o álcool para a maioria das pessoas.

Todo ano vivo na pele a pressão dos amigos para beber nas comemorações durante meu período abstêmio. Parece que é um pecado, uma falta de consideração, você optar apenas pela água ou suco. Ainda mais para alguém que gosta de uma cerveja e até fabrica a sua. “Deixa de ser fresco! A corrida é só daqui a 2 semanas! Você está querendo ganhar a corrida? Bebe só um pouquinho...” Ver um amigo sem beber ofende muita gente. Apenas doença e antibiótico garantem o sossego do pobre abstêmio.

Conheço algumas pessoas que não bebem, se divertem mais e “enfrentam” a sociedade que passou a enxergar a alegria apenas após algumas doses. Seria muito mais saudável se conseguíssemos desvincular alegria de bebida alcóolica. Tristes daqueles que só conseguem se divertir a base de etanol.

Caso não tenha feito o teste, experimente ir a um evento e não beber. A experiência é muito válida e escancara a dependência, por mais leve que seja. Lembrem-se que só funciona se for em uma festa bem bacana, na qual você certamente beberia. No início, você fica sem lugar para colocar a mão que já está acostumada a segurar um copo. Prepare-se para beber litros de água e ir ao banheiro mais vezes que se estivesse ingerindo bebidas alcóolicas. A festa fica sem graça sem beber? Os assuntos daquele colega beberrão são intoleráveis? O seu desconforto é evidente e vários amigos perguntam se está tudo bem? Pois bem, você já é um dependente do álcool para se divertir.

Faço a abstinência para a corrida e para me lembrar o quanto o álcool é perigoso. Sem beber, a partir da segunda festa, você começa a se soltar mais. Da terceira em diante, a diversão é bem semelhante a das festas regadas a etanol. É possível se divertir sem álcool e o dia seguinte é muito melhor também! Festa sem álcool não é festa? Cuidado!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nós, os Carecas


A calvície é um tormento na vida de muitos homens e de algumas mulheres. Sinceramente, nunca me incomodou, pelo contrário, sempre me ajudou e vou explicar o motivo.

Sou careca desde os 24 anos. Saibam que não foi uma calvície progressiva, lenta e dolorosa, foi bem aguda, como tirar esparadrapo rápido. Aos 23 anos, tinha cabelo para dar e vender, mas um ano depois...

A calvície sempre me ajudou. Economia de shampoo, de tempo para me arrumar e de barbeiro (há vários anos, quem corta meu cabelo, ou o que sobrou dele, é minha esposa) são alguns exemplos do dia-a-dia. Desde então, passei a ser uma referência. Exemplificando melhor: “Ali, do lado daquele careca.”

Nunca vi nenhum careca pedindo esmola na rua. Quem conseguir identificar um, tire uma foto e me mande. Os pedintes são geralmente bem cabeludos. Os carecas são bem resolvidos e bem sucedidos. Não é a toa que a célebre frase da marchinha de carnaval de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior ecoa até hoje: “É dos carecas que elas gostam mais...” As mulheres buscam é atitude e não um topete. Aparência atrai, mas não segura ninguém.

Na Medicina, sempre levei uma imensa vantagem sobre meus colegas “caras de neném”... a primeira impressão! Um médico careca impõe mais respeito, transmite mais experiência e segurança. Claro que a primeira impressão não é suficiente para sustentar uma relação médico-paciente-família, mas não posso negar que sempre fui beneficiado pela minha calvície nesse aspecto. Apenas as atitudes que se seguem irão alicerçar a confiança do paciente. Os “caras de neném” até conseguem atingir esse objetivo, mas precisam se esforçar bem mais. Vale ressaltar que nem todo calvo sabe aproveitar esse privilégio.

Não julgo os aficionados pela finasterida e afins, tenho vários amigos assim. Protelá-la, hoje, é mais que possível. Considero apenas que a calvície não deve ser encarada como o fim do mundo, apenas o início de um outro mais tranquilo, seguro e prático. Salve nós, os carecas!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Saúde em Meio ao Ambiente


Há seis anos fui convidado para ministrar uma aula no IEF (Instituto Estadual de Florestas) sobre saúde. Montei uma aula tentando colocar os dois temas lado a lado: saúde e meio ambiente. Gostei bastante do resultado e achei bacana compartilhar minhas divagações...

Saúde, segundo a OMS, é “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Sendo assim, “a saúde do homem depende diretamente da boa saúde do meio ambiente em que vive”.

Iniciei minha aula fazendo algumas comparações e questionamentos junto a platéia, sem médicos ou profissionais da área de saúde.

O que é a imagem abaixo?


Todos responderam que era uma árvore seca; entretanto, olhando-a cuidadosamente e com um certo conhecimento, percebemos que são as artérias de um rim. Abaixo, coloco uma árvore seca real. A semelhança impressiona.


Coloquei essa outra figura e perguntei do que se tratava...


A resposta "foto de satélite com um rio e seus afluentes" ganhou fácil. Na verdade, trata-se dos vasos sanguíneos da retina de uma pessoa. Abaixo, uma foto de um rio e seus afluentes, tirada de um satélite.


As últimas fotos que coloquei, para escancarar as semelhanças, foram as duas seguintes... Vejam que interessante...



A primeira é a foto da junção do Rio Negro com o Rio Solimões, vista de um satélite, e a segunda é uma arteriografia da aorta com a bifurcação das artérias ilíacas. Alguém ainda duvida que somos parte do meio ambiente?

Até o final do século XIX, o Sistema Econômico era pequeno e bem menor que o Sistema Ecológico. A partir do século XX, surge a economia do consumo desenfreado e o Sistema Econômico toma proporções inimagináveis, ocupando uma área enorme dentro do Sistema Ecológico. O lucro, acima de tudo e de todos, passa a direcionar as ações, promovendo uma desigualdade nunca antes vista. Vejam alguns exemplos...

  •      20% da população do planeta consome 80% de tudo que é produzido;
  •      Os países do 1o mundo consomem 71% da energia produzida no planeta;
  •      1/6 do mundo não tem acesso a água potável;
  •      1/3 do mundo não possui saneamento básico.

Certa vez, Wood Allen disse: “Solucionar problemas econômicos é fácil, basta ter dinheiro”. Equivocou-se. Segue um argumento imbatível...

O que você poderia fazer com 10 bilhões de dólares por ano?

Alternativa 1: Em 10 anos, sanear todo o mundo (isso mesmo, em 10 anos toda a população da Terra teria saneamento básico com este valor!)

Alternativa 2: Gastar o dobro com comida para cães e gatos (nos EUA, gasta-se, atualmente, cerca de 20 bilhões de dólares por ano com alimentos para bichinhos de estimação).

O dinheiro existe, isso é fato. O que falta é foco e vontade de resolver os problemas. Investe-se errado em busca de uma política de saúde eficiente. Veja a tabela abaixo e lembre-se que a política dos EUA é copiada mundo a fora...


Posteriormente, fiz uma analogia entre as catástrofes na natureza (tsunamis, terremotos, furacões e tempestades) com as doenças no homem (hipertensão arterial, diabetes, câncer). 

A Terra, assim como o Corpo Humano, possui um poder de assimilação impressionante. A certeza de um limite é clara, em ambos os exemplos. A Terra e o Corpo Humano cobrarão o preço, mais cedo ou mais tarde. Abolir o tabagismo e a poluição no planeta. Ingerir bebidas alcóolicas moderadamente e evitar as queimadas. Combater a obesidade e o desmatamento criminoso. Reduzir a carga de estresse e monitorar a mineração. Atitudes reais, com benefícios indiscutíveis.

Exemplificando, no ser humano, coloquei fotos de um fígado saudável e de um fígado cirrótico causado pela ingestão indiscriminada de álcool. 



Na natureza, uma foto de mata preservada e de outra destruída pelas mãos do homem.



Vejam o assoreamento de um rio quando há o desmatamento da mata ciliar...


Agora, vejam a fisiopatologia das placas ateromatosas nas artérias do ser humano... Qualquer semelhança...


Resumindo, algumas doenças e catástrofes são inevitáveis; porém, podemos minimizar os impactos para a natureza e para o nosso organismo. A busca doentia pelo lucro prejudica a preservação do meio ambiente, bem como o imediatismo e a busca pelo prazer a todo custo prejudicam a manutenção da saúde.

Finalizando, oito dicas de Ecossaúde (termo bastante utilizado atualmente):
  1. Caminhe mais;
  2. Dê carona;
  3. Economize água;
  4. Economize energia;
  5.  Leia mais, produza mais;
  6. Alimente-se devagar;
  7. Consuma o necessário;
  8. Desacelere.

“Inconsciente de sua força, arrogante e orgulhoso, destruiu a natureza. Dissolvido no consumo, desumanizou-se. Amedrontado, afundou no lodo espesso do trabalho sem fim. Ignorante de seus limites, perdeu-se de si próprio.”

Hélio Mattar