Quem sou eu

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ressaca e Carnaval

“Acordei e minha cabeça parecia um bate estaca. A dor era absurda. Não lembrava de nada da noite passada. Além do corpo dolorido e da boca seca com gosto de cabo de guarda chuva, meu estômago queimava e parecia querer sair pela boca. Tentava dormir, não conseguia. Tentava levantar, faltava-me força. Após uma salivação intensa, vomitei copiosamente. Veio um certo alívio. Naquele momento, prometi que nunca mais ia beber daquele jeito.”

Identificou-se com o relato acima? Quem nunca passou por uma ressaca? Solidão, alegria, vitória do time do coração, happy hour, estresse, merecimento, tudo é motivo para errar a mão na bebida. Aproveitando o ensejo do carnaval que se aproxima, resolvi discorrer sobre o tema.

A ressaca é conhecida cientificamente como veisalgia, nome originário da palavra norueguesa KVEIS (“mal estar depois da orgia”) e da palavra grega ALGIA (“dor”), ou seja, dor e mal estar depois da orgia.

A ressaca existe há pelo menos 10.000 anos, desde que começamos a fabricar cerveja e vinho. Existem relatos de egípcios e gregos, além do Antigo Testamento, que já citavam os efeitos da libação alcoólica no organismo. Entretanto, foi a partir do século XIX, quando passamos a produzir bebidas mais alcoólicas, que a ressaca passou a fazer parte do nosso cotidiano. Apesar da enorme prevalência mundial, essa condição não é muito compreendida cientificamente.

Imagine se não houvesse a ressaca? A ingestão excessiva de bebidas alcoólicas intoxica o organismo, que precisa eliminar o etanol. O exagero no consumo pode ocasionar desde uma simples ressaca até a morte. A ressaca nada mais é que o organismo tentando se recompor após a agressão sofrida no dia anterior.

A ressaca caracteriza-se por sintomas físicos e mentais muito desconfortáveis, dentre eles: desidratação, cefaléia, vômitos, diarréia, gases, fraqueza, elevação da temperatura corporal e da frequência cardíaca, sialorréia (aumento da salivação), sudorese, ansiedade, irritabilidade, hipersensibilidade a luz e ao barulho, tremores e mau hálito. Além dos sintomas físicos, a famosa ressaca moral, as vezes, é muito pior.

Os sintomas variam muito de pessoa para pessoa, com a quantidade e com a qualidade da bebida ingerida. Geralmente os sintomas iniciam-se quando os níveis de álcool no organismo começam a cair e atingem o seu ápice quando esses níveis chegam a zero. A ressaca pode durar até 24 horas.

Existem vários fatores que estão ligados a ressaca, dentre eles:
- Efeitos diretos do álcool no organismo (desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos, alterações gastrointestinais, queda da glicemia, distúrbios do sono e do ritmo biológico);
- Abstinência alcoólica;
- O metabolismo do álcool (toxicidade do acetaldeído);
- Efeitos não relacionados ao álcool (outros compostos associados nas bebidas, uso concomitante de outras drogas – nicotina é a mais prevalente –, a personalidade do indivíduo e a história familiar de alcoolismo).

Inúmeros tratamentos são descritos para prevenção e redução da duração e da intensidade dos sintomas, porém, poucos têm embasamento científico. O melhor remédio para a ressaca é o tempo. Assim como inúmeras doenças descritas na medicina, a ressaca é autolimitada, na grande maioria das vezes, ou seja, vai se curar sozinha. Daí, a eficácia daquele chazinho que sua avó já utilizava e das outras tantas receitas de sucesso descritas por aí.

As medicações utilizadas antes e depois da bebedeira são perigosas. O ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina), amplamente divulgado em mídia, em associação com o álcool, pode ocasionar irritação gástrica, inclusive com sangramentos graves. O acetaminofeno (paracetamol) que, assim como o álcool, também é tóxico ao fígado e pode causar complicações.

Rebater a ressaca bebendo novamente apenas vai postergar os sintomas, além, é óbvio, de expor seu organismo ao risco da ingestão descontrolada. A melhor alternativa para curar a ressaca é dormir bastante e hidratar-se bem. Lembre-se que a hepatite alcoólica e a pancreatite aguda podem levar o indivíduo a morte.

A ingestão de água durante a bebedeira diminui a ressaca porque você vai ingerir menos álcool, além de evitar a desidratação. A alimentação antes e durante a bebedeira vai diminuir a ressaca porque a absorção do álcool vai ser menor. Concluindo, o melhor jeito de prevenir a ressaca é ingerindo menos ou absorvendo menos álcool. A dica é beber com moderação ou não beber se você não consegue beber com moderação.


Bibliografia Auxiliar:
http://pubs.niaaa.nih.gov/publications/arh22-1/54-60.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário